Família enterra estátua de Cristo por medo de furto em cemitério
Certo dia, a aposentada Maria deu por falta de dois vasos de bronze sobre o túmulo de sua família no cemitério da Consolação. Sabendo de uma onda de furtos de peças no local, passou a temer por uma estátua de Cristo que fica sobre o mausoléu.
Pediu então que a administração do local removesse a peça soldada de bronze, de cerca de 1,5 metro de altura, e a escondesse em um dos jazigos vazios da família.
A Prefeitura de São Paulo confirma a informação."Eu não ia deixar que levassem o Cristo também, então o enterrei", disse Maria, que pediu para não ter o sobrenome revelado –o que poderia entregar a localização da estátua.
Segundo levantamento obtido pela Folha, desde 2013 foram registrados furtos de 459 itens no cemitério da Consolação. Os preferidos são os portões e os vasos de bronze que adornam os túmulos e capelas. Mas a lista ainda conta com bustos de bronze e alças de caixão, entre outras peças.
No mês passado, um adorno floral do túmulo de Monteiro Lobato e os portões do mausoléu de Mário de Andrade foram alvo dos ladrões.
O cemitério público mais antigo da cidade, fundado em 1858, é também o mais visado pelos criminosos, que encontram fácil esconderijo entre os grandes jazigos, mausoléus e capelas.
Segundo o Serviço Funerário de São Paulo, a maioria dos criminosos são dependentes de drogas que revendem os objetos por dinheiro. Desde 2013, foram feitas 15 prisões em flagrante no cemitério.
A prefeitura diz acreditar, no entanto, que o grande problema são os receptores das peças de bronze.
André Moscatelli/Folhapress |
FAMÍLIAS UNIDAS
Para tentar contornar esse cenário, um grupo de familiares de pessoas enterradas ali começa a estudar formas de financiar melhorias estruturais e da segurança.
"O cemitério tem uma grande importância para o patrimônio histórico e cultural da cidade. Não podemos deixar que ele seja dilapidado pouco a pouco", diz o engenheiro Marcos Ambrogi.
Entre os procurados pelas famílias estão o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que têm parentes enterrados ali.
O grupo propõe a instalação de câmeras com sensor de movimento para maior segurança noturna, e a criação de uma organização social que possa ser contratada pela prefeitura para gerir o cemitério.
A administração municipal afirma ter religado em 2014 todos postes de iluminação dentro do cemitério, que passaram anos apagados, e que a segurança é feita 24h por dia por homens da Guarda Civil Metropolitana.
A gestão diz ainda que tem trabalhado para melhorar a segurança no local e que está em constante contato com a polícia e a Guarda Civil.
Enquanto elabora melhorias na segurança do cemitério, o Serviço Funerário orienta as famílias a evitar adornar os túmulos com peças de alto valor comercial, como as de bronze e cobre, para amenizar a ação de criminosos.
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