Campinas completa sete dias de crise com 25% da população sem água
Campinas (a 93 km de SP) completa sete dias de crise hídrica nesta quinta-feira (16) com um quarto da população desabastecida e sem previsão de melhora nos próximos dias.
Desde sexta (10), a falta de água atingiu de 20% a 50% da população, mas a Sanasa (empresa de água e esgoto) continua negando que haja rodízio ou racionamento para os 1,1 milhão de habitantes do município.
A justificativa é que "nenhum bairro ficará sem água por mais de 12h" e que há apenas "problemas pontuais".
A reportagem percorreu bairros de diversas regiões nesta quarta (15), no entanto, e constatou que há moradores sem água na torneira há dias. O Jardim Santo Antônio, na periferia, é um dos mais afetados.
"A água chegou na casa de um colega e eu fui encher um galão para lavar a louça e tomar banho", diz o porteiro Eliélcio Sampaio, 26, que caminhou mais de 1 km com 20 litros nas costas porque estava sem água desde sexta.
"Desde segunda eu não cozinho porque a louça está toda suja. O banheiro não dá nem para entrar, e o banho está sendo de canequinha", lamenta.
Na terça, dois protestos no bairro forçaram a Sanasa a enviar caminhões-pipa para abastecer as casas. Ontem, a empresa interrompeu o fornecimento em outros bairros para que o Santo Antônio fosse abastecido.
"Não tem rodízio. Estamos atendendo pontualmente onde tem falta de água, de acordo com a demanda", afirma Marco Antônio dos Santos, diretor técnico da Sanasa.
A empresa diz que há 20 caminhões-pipa, que retiram água potável dos reservatórios da companhia, para os bairros mais afetados.
"Continua sem água desde sexta. Estamos gastando R$ 100 por dia comprando água mineral para fazer pão e até lavar o chão", diz Miriam Edite, 34, balconista de uma padaria em frente ao local onde houve um dos protestos.
No bairro, um galão de 20 litros de água custa R$ 20. "É absurdo. Não pode explorar assim", diz Verônica Pereira, 36, dona de um comércio de água. "A gente cobra o mesmo preço de antes, R$ 6,50. No domingo nem abrimos, porque sábado vendeu tudo."
Rosimária Paes, 34, cogita voltar para Lagoa da Confusão (TO) se a crise continuar. "Hoje acordei 3h da manhã porque meu cunhado ligou dizendo que tinha água. Eu fui buscar e enchi um tanquinho, um tambor e as garrafas que tinha. Minha mão dói."
"Faltou domingo, segunda e terça", diz o aposentado Bernardo Feliciano de Lima, 62. "Se é para faltar, que seja um dia em cada bairro."
BAIXA QUALIDADE
A Sanasa capta 4 m3/s de água dos rios Atibaia e Capivari para abastecer a cidade, mas ambos estão com vazões muito baixas e água de péssima qualidade. Como os reservatórios da empresa são suficientes para apenas seis horas de abastecimento, a população é logo afetada.
Campinas contava com duas medidas para tentar aumentar a vazão do rio Atibaia (que abastece 93% da cidade), mas ambas fracassaram.
A Sanasa pediu que Jundiaí interrompesse a transposição de 1,2 m3/s de água do Atibaia para o rio Jundiaí-Mirim, mas o pedido foi negado.
Na sexta passada, a Sabesp descumpriu determinação da ANA (agência federal de águas) e do DAEE (departamento estadual de águas) para aumentar a descarga de água do Cantareira para o Atibaia de 3 m3/s para 4 m3/s.
Na terça, o DAEE decidiu enviar 3,5 m3/s, sem a concordância da ANA, alegando "solução adequada diante da atual escassez hídrica".
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