Após 'boom' da Copa movimento cai nos bares da Vila Madalena, em SP
Depois de viver dias de "micareta", como descreve uma frequentadora, a Vila Madalena está "às moscas", lamenta um garçom.
Famoso pelos bares com mesas nas calçadas e música ao vivo, o bairro na zona oeste de São Paulo viu o movimento cair pela metade nos últimos meses.
Segundo garçons e gerentes de oito estabelecimentos ouvidos pela Folha, as perdas variam de 30% a 60% em relação a maio –antes, portanto, do "boom" da Copa do Mundo (junho e julho).
A reportagem esteve no bairro ao longo da última semana e constatou que, mesmo quando havia público, era em quantidade inferior à conferida nos últimos anos.
De longe, o burburinho e a disputa de sambas e pagodes executados por bandas lado a lado sugerem lotação. De perto, a figura é outra.
Marlene Bergamo/Folhapress | ||
Esquina das ruas Aspicuelta e Mourato Coelho, com pouco movimento na última sexta |
"Vim pensando Se estiver muito muvucado, vamos subir [para bares mais afastados]'. Mas até parar o carro na rua eu consegui", notou a analista tributária Liliane Escriptore, 27, na quarta (15).
Ela e a amiga Flavia Taiana, 28, costumavam ir ao bar Coutinho, na esquina das ruas Fradique Coutinho e Aspicuelta. Ficaram três meses sem aparecer e na última semana estavam surpresas com o movimento fraco.
Apesar de a falta de água ter afetado também a região, não parece ser essa a única causa do esvaziamento. "O cliente não sente na mesa. Temos 10 mil litros de reserva", conta Camilo Evando, gerente do Posto 6, na Aspicuelta.
Até maio, o bar atraía até 750 pessoas. Agora, se chegar a 330 é muito, relata Evando.
CAVEIRA
"Fizeram caveira na Vila. Diziam que tinha estupro e as pessoas ficaram traumatizadas", opina a administradora Juliana Coelho, 26.
Ao lado da amiga Maria Claudia Fazzine, 28, ela frequentava o bairro pelo menos uma vez por semana, mas trocou de Vila –a Madalena pela Olímpia. As duas agora frequentam uma casa sertaneja. "O custo-benefício é melhor."
Um garçom do bar Salve Jorge concorda que os preços só compensam para quem vem de longe: "A maioria dos clientes é de Campinas", diz João Carlos de Morais. O cardápio teve um reajuste de 5% a 10% um mês antes da Copa e, desde então, o almoço de domingo "não dá nada mais".
O consumo médio por cliente no José Menino caiu de R$ 150 para R$ 80, de acordo com o coordenador de salão Jackson Felipe. Há quatro anos no emprego, ele notou que o "boom" recente fez mudar o perfil da clientela.
Se, por um lado, a música ao vivo é um "diferencial", por outro, afastou frequentadores antigos que vinham para tomar chope e conversar.
"O público não está legal. Bati muito cartão aqui, mas agora só vem molecada", reclama Bianca Villa, 34, habituée há dez anos da região.
Às 19h de quarta (15), na quadra mais movimentada do bairro (Aspicuelta entre Mourato Coelho e Fradique Coutinho), o boteco Chop na Área estava fechado e nenhuma mesa do Companhia da Cerveja estava ocupada.
Este último estabelecimento demitiu quatro funcionários, disse o líder dos garçons, Paulo Cesar Carvalho.
O tradicional Genésio, na rua Fidalga, passou a vender no máximo sete barris de chope em noites agitadas, ante os 13 de seis meses atrás.
"A Copa só deu prejuízo", constata Juarez Fernandes, gerente há 11 anos da casa. Cercado por tropas de polícia e artilharias de banheiros químicos, o bar tinha apenas quatro das 23 mesas ocupadas no fatídico sete a um.
"A gente advertiu. Tanta bagunça só poderia fazer mal ao bairro, mas ninguém escuta", critica Tom Green, inglês que mora há 15 anos no bairro e fundou a associação SOS Sossego Vila Madalena. "Os antigos frequentadores, mais refinados, agora pensam duas vezes antes de encarar a baderna."
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