Colunista da Folha relata falta de energia por 48 horas em Cotia
Terça, 17h30. Chove forte, a luz acaba. Ligo pra Eletropaulo. A gravação me atende. É aquele cara bonzinho que conheço de outros carnavais, acho que da NET. Antes, ele dizia, "entendi, você digitou três, comprar jogos, vamos lá!", e sua voz terna fazia eu me sentir menos só neste mundo hostil. Agora, não é diferente: ele informa que pelo número do meu telefone já sabem do problema e equipes estão trabalhando para restabelecer a energia "o mais rápido possível". Fico tranquilo. Que empresa eficiente!
Terça, 20h33. A luz não voltou, o que me faz pensar que "o mais rápido possível" talvez diga mais sobre a possibilidade do que sobre a rapidez. Amyr Klink levou cem dias pra cruzar o Atlântico num barquinho a remo e tenho certeza de que veio "o mais rápido possível". Ligo outra vez pro amigão. Ele tem boas novas. A equipe já está trabalhando no local e a volta da luz está prevista pras 21h. Ótimo!
Terça, 21h13. A luz não voltou. Ligo de novo. "Se você quer reportar queda de energia, digite 2". Como assim, amigão? Sou eu, aquele da NET, aquele cuja energia ia voltar às nove, esqueceu? Não me reconhece mais? Cadê a minha equipe?
Terça, 23h31. Nada de luz. A bateria do celular tá no vermelho. A do laptop, na metade. Ligo outra vez. Nova previsão, 1h30. Antes de dormir, otimista, plugo o celular no carregador. Espero acordar de madrugada com aquele "plim" do início da recarga. (Gargalhadas).
Quarta, 6h? 8h? Não sei, a luz não voltou e o celular morreu. Acordo com o choro da minha filha. Dou a mamadeira (fria), saio pra comprar gelo e aproveito pra carregar o celular no carro. Ligo pro amigão. A previsão é 11h30. Nenhuma explicação, nenhum "ao contrário do previsto", nenhum pedido de desculpas, picas. Boto panelas com gelo na geladeira e no freezer. Às 11h, o laptop também me abandona. Vou trabalhar na minha irmã? Melhor esperar um pouco. A luz já deve estar voltando. Eles não iam errar na previsão tantas vezes, iam? (Gargalhadas histéricas).
Quarta, 13h27. O amigão vem com aquele papo de "o mais rápido possível". Regredimos na relação, novamente. Sinto saudades de atendentes mal-humoradas com vozes anasaladas dizendo "sem previsão, senhor". O nome daquilo, percebo agora, era transparência.
Quarta, 16h42. Nova previsão: 18h. Quarta, 18h30. Saio pra comprar mais gelo. Minha mulher me faz jurar que vou parar de ligar pro amigão. Isso já não é mais ansiedade, é síndrome de Estocolmo. Quebro o juramento. Continuo ligando pro amigão. A cada duas horas, mais ou menos, ele me diz que a luz voltará dali a duas horas.
Quinta, 8h30, enchemos uma mala térmica com o gelo que sobrou, botamos dentro todo o conteúdo do freezer, pegamos os laptops e vamos trabalhar na casa dos outros. A energia só é restabelecida lá pelas 17h, 48 horas depois. Voltando pra casa, umas duas esquinas antes de chegar, vejo o homem que vende frutas, poltroninhas, minimacacões de F1 e, na Copa, vendia bandeirolas e camisas da seleção; ele agora oferece lampiões a pilha. Ótima ideia. Péssimo sinal. (Gargalhadas aflitas).
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