Com banho de mangueira, mineiros fazem 'praia' em praça de BH
Quando o sol chega ao calor do meio-dia, os banhistas começam a aparecer. Estão de sunga ou biquíni, chapéu de praia e óculos escuros. Uns estendem cangas, outros armam o guarda-sol.
Seria só mais uma cena de verão, se eles não estivessem a pelo menos 500 quilômetros do litoral. Mas a praia dos belo-horizontinos fica ali mesmo, na praça da Estação, no centro da capital mineira.
Para contornar o calor, os banhistas fazem uma vaquinha e contratam um caminhão-pipa. Do alto dele, alguém vestido de Chapolin mira a mangueira na multidão, que levanta os braços e canta em coro: "Ei, Chapolin, joga água em mim!"
A Praia da Estação, como foi batizada, surgiu há cinco anos, em protesto contra um decreto municipal que proibia a realização de eventos na praça -mas já revogado.
Samuel Costa/Folhapress | ||
Pessoas curtem banho de mangueira na Praça da Estação, no centro de Belo Horizonte. |
Sem liderança definida, a praia acontece desde então, sempre aos sábados. A periodicidade é irregular, mas ganhou força nos meses do verão, quando também vira palco para ensaios de Carnaval.
O início da festa, por sinal, se confunde com o ressurgimento do Carnaval de rua de Belo Horizonte, que vem ganhando mais blocos e foliões desde 2010.
"A reivindicação era ocupar os espaços públicos, e o Carnaval também é isso, é ocupar a rua", diz a atriz Denise Leal, a "Chapolin" do caminhão-pipa.
Em 2011, a Praia da Estação virou bloco. Aos sábados de Carnaval, os banhistas saem em cortejo da praça até a avenida Afonso Pena, para "lavar" a prefeitura.
"O clima é de curtição mesmo. Pra alguns, não tem esse caráter político, mas mesmo que eles não saibam estão ajudando a ocupar um lugar público", conta Denise.
POLÊMICA
Em plena crise hídrica no Sudeste, a festa não escapou de críticas de que seria um desperdício. A polêmica até fez com que um dos eventos de dezembro ocorresse sem o banho de caminhão-pipa.
Na semana passada, a Copasa (Companhia de Saneamento de MG) fez um apelo aos moradores da região metropolitana de BH para reduzirem em 30% o consumo, para evitar o racionamento.
Mas quem defende o banho na praça argumenta que o volume gasto por evento é pouco significativo, e que o poder público, que deveria ter se planejado para evitar a crise, joga a responsabilidade na população.
"São 8.000 litros d'água, mas são 2.000 pessoas. Se cada um economizar em casa, a gente vai economizar muito mais", defende Denise.
"É complicado, mas a gente não tem praia, então esse é o nosso mar. É pontual, um pequeno desperdício válido."
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