Cadeirantes voam a 200 metros de altura em máquinas adaptadas; assista
"Você voaria de novo?" Essa é a pergunta que mais escuto depois da maluquice de subir a cerca de 200 m de altitude em um "paratrike"-triciclo com estrutura bem simples, apoiado por um motor mais simples ainda e sustentado por uma vela-, tendo como piloto outro cadeirante como eu.
De imediato, respondo que "nem a dólar" e brinco que tenho medo de cair e deixar de andar, ficar paraplégico.
Porém, quando recordo as sensações inéditas que experimentei e a lembrança para a vida toda que construí, acho que repetiria a aventura, sim, mas com menos vento -e sem rasantes, por favor.
Fiz o teste, na carona, no último domingo (1°) na cidade de Salto (a 101 km de SP).
"Tá conseguindo relaxar? Aproveita o visual, curte o vento", aconselha o meu piloto, o advogado Augusto Toledo, 49, que se acidentou com gravidade em 2003, justamente em um voo com vela. Lesionou a medula e se tornou cadeirante.
Apu Gomes/Folhapress | ||
'Paratrike' com cadeirantes em Salto, no interior de SP |
Durante cinco anos, ele se preparou novamente para voar, inclusive para fazer voos duplos, "com mais técnica e cursos de segurança".
Hoje, faz passeios semanais com o "paratrike" e, com a ajuda de técnicos, desenvolveu um outro equipamento, uma "cadeira de rodas voadora" em que faz saltos solos a partir de rampas localizadas em montanhas.
Diferentemente do "paratrike", a cadeira voadora inventada pelo advogado não conta com nenhum motor de impulsão e estabilização, apenas com a força do vento e com o manejo da vela.
"Preciso apenas de um empurrão, na saída. Caio lá do alto e aí é um voo como outro qualquer", diz Augusto. "No pouso, ter as rodas [da cadeira] ajuda muito, uma vez que posso chegar em um acostamento de rodovia ou em cima de um ninho de cupins. A cadeira me dá mobilidade, permite sair do local, recolher a vela e esperar a equipe."
Ele começou a usar o novo equipamento há menos de um ano e já decolou com a invenção em montanhas do Chile e do interior de Minas.
Não, na cadeira voadora não é possível fazer voos com mais de uma pessoa e, mesmo que fosse, eu jamais gostaria de provar, nem com toda a proteção de nossa senhora da bicicletinha.
Apu Gomes/Folhapress | ||
'Paratrike' com cadeirantes em Salto, no interior de SP |
DO CÉU
Talvez por eu ser fã de uma música da banda Karnak que diz: "Daqui do céu dá pra ver tudo/Os continentes desse mundo", solto no vento, lá no alto, os pequenos lagos, os carros na rodovia, os telhados e construções das cidades de Itu, Atibaia e Salto, de onde partimos, me pareciam uma imensidão.
"É uma sensação incrível pra gente que vive sentado, não é? A dimensão do ar é a melhor que existe", diz Augusto, enquanto manobra a vela diante de uma corrente de vento que faz o "paratrike" balançar e o meu coração pular pela boca.
É mesmo emocionante estar voando livremente na perspectiva de quem mal consegue atravessar uma rua da cidade porque não há rampas e as calçadas são destruídas.
Por outro lado, é punk imaginar que nada muito concreto está te dando sustentação e que "capotar" no pouso ou ficar pendurado em uma árvore "é do jogo".
Augusto desceu assim que minha cota de relaxamento zen acabou e pedi para aterrissar. Ele ainda fez uma graça descendo bem perto da cabeça dos cinegrafistas que registravam o fato.
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