Blitz da dengue em SP tem resistência e constrangimento de moradores
A moradora do sobrado de classe média de Santana, na zona norte de São Paulo, abre as portas para os "guardas da dengue". Mal começam a inspeção do térreo, ela se apressa em retirar os pratos de vasos de plantas do terraço para evitar qualquer flagrante de larvas do Aedes aegypti.
Na zona leste, a fiscalização bate na porta de 65 casas, mas em 18 delas não consegue entrar. Em algumas, parece não haver ninguém mesmo; em outras, ruídos ou luzes indicam que moradores não querem receber os agentes.
Em meio ao avanço da doença em 2015, quando os casos triplicaram na cidade, moradores que resistem à inspeção ou ficam constrangidos pelo cenário de risco no próprio quintal são comuns diante dos agentes da Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde, ligada à prefeitura).
Entre os vilões mais recorrentes que abrigam larvas, conforme duas blitze acompanhadas pela Folha, estão pratos de vasos e baldes usados para guardar água da chuva.
Na zona norte, quase metade das visitas achava sinais das larvas. Na leste, em uma a cada quatro ou cinco casas.
"A gente enfrenta muita recusa, encontramos de tudo. Tem gente que, mesmo com situação crítica por perto, não quer nem nos ouvir", afirma a fiscal Dulcineia Rocha. "Acham que é desnecessário", diz o agente Luiz Oliveira.
A prefeitura tem em torno de 2.500 inspetores da dengue à procura de larvas.
O acesso deles aos imóveis é feito, de modo geral, mediante a liberação dos moradores. Em caso de recusa e avaliação de que há risco à saúde pública, a prefeitura diz que pode recorrer à Justiça -mas, na prática, isso nunca chegou a ser feito.
Na zona leste, mesmo alertado pelos inspetores devido à presença de criadouros em uma caixa-d'água e um frasco no depósito de sucata, Fernando Brito, 58, responsável pelo lixo reciclável, não revelou preocupação. "Aqui não tem dengue. Se tivesse, eu seria o cara mais dengoso do bairro."
As visitas nos bairros de Ermelino Matarazzo e Santana ocorreram porque houve notificações de suspeita. Caso a doença seja confirmada no laboratório, os agentes voltarão aplicando inseticida.
Em fevereiro, a Folha mostrou que a ação dos agentes vinha sendo prejudicada na zona norte pela falta de veículos. A prefeitura alegou que havia um processo de troca da empresa responsável pelo serviço, mas que os carros já foram repostos.
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