'Pagar com a vida é demais', disse Gularte antes do fuzilamento
Quatro minutos antes de ser morto por um pelotão de fuzilamento no interior da Indonésia, já amarrado a uma cruz de madeira, Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, falou pela última vez: "Eu cometi um erro, mas pagar com a vida é excessivo demais".
O relato sobre os últimos momentos do brasileiro é do padre Charlie Burrows, 72, que esteve com ele em uma clareira na qual Gularte e outros sete condenados por tráfico de drogas foram executados na madrugada de quarta (29), no horário local, tarde de terça (28) no Brasil.
O paranaense estava preso desde 2004 no país, quando foi flagrado com seis quilos de cocaína no aeroporto de Jacarta –a droga estava escondida em pranchas de surfe.
Na Indonésia, a lei que disciplina a aplicação da pena de morte prevê que religiosos possam ficar no local de fuzilamento, para dar conforto espiritual, se os condenados manifestarem esse desejo.
CANÇÃO E SILÊNCIO
Momentos antes do fuzilamento, enquanto caminhavam em direção ao pelotão de atiradores, sete dos condenados cantaram alto o hino religioso "Amazing Grace", puxado pelos dois australianos condenados à morte e pela pastora que os acompanhava.
Gularte foi o único a não cantar. Preferiu uma oração, em silêncio, disse o padre.
O brasileiro manteve a "compostura", segundo o relato do religioso, e parecia calmo, sem medo do que estava por vir, "aborrecido" com a pena recebida.
Gularte não ficou vendado no momento dos tiros, assim como os outros sete condenados –os presos podem escolher se querem ou não encarar os atiradores, num total de 12 para cada condenado.
Ele não chorou e, após os tiros, morreu imediatamente, segundo o religioso. Os demais prisioneiros, disse, também morreram na hora.
Gularte sofria de esquizofrenia, comprovada por dois laudos. O governo indonésio chegou a avaliá-lo, mas jamais divulgou o resultado. Ainda assim, a Indonésia sustentava não haver proibição de executar um doente mental.
Nos minutos que antecederam os tiros, Gularte estava consciente do que ocorreria, segundo o padre, que é crítico da pena de morte.
FATO GRAVE
Gularte foi o segundo brasileiro executado neste ano na Indonésia. O primeiro foi Marco Archer Cardoso Moreira, 53, em janeiro, também condenado por tráfico de drogas.
As duas mortes provocaram forte reação do governo brasileiro, que admite rever as relações com a Indonésia. O Planalto classificou a execução como um "fato grave".
Eles são os dois únicos cidadãos brasileiros a serem punidos no exterior com a pena de morte em tempos de paz.
O corpo de Gularte será levado nos próximos dias para Curitiba, no Paraná, seu Estado natal, onde será enterrado.
Na quarta (29), em Jacarta, uma missa de corpo presente foi organizada por Angelita Muxfeldt, prima dele. Funcionários da Embaixada do Brasil também participaram.
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