MINHA HISTÓRIA: RITA RIBEIRO DA SILVA, 38
Bebês trocados em maternidade agora vivem grudados, diz mãe
A doméstica Rita da Silva, 38, teve seu bebê trocado na Santa Casa de Votorantim (a 105 km de SP) em 2004. As crianças foram destrocadas, mas a outra mãe não se acostumou com o filho biológico, segundo Rita.
Por decisão judicial, ela ficou com os dois. A Prefeitura de Votorantim e a Santa Casa foram condenadas a pagar R$ 272 mil por danos morais e materiais. Não cabe recurso.
*
Eu tive o Vitor, meu terceiro filho, em julho de 2004. Na sala de parto da Santa Casa, me mostraram ele. No quarto, me deixaram o Giuliano.
Quando o neném começou a chorar, uma paciente se levantou, me entregou ele e me chamou de Luciana. Falei que meu nome era Rita. Ela disse: "Não é o que está escrito no bercinho".
Sugeri que olhássemos a pulseirinha do bebê. Tinha o meu nome. Chamamos a enfermeira, que olhou a pulseira, disse que estava tudo certo e só destrocou os berços.
Fui embora desconfiada. Falei para a minha mãe que achava que o neném não era meu. Ela falou que só tinham nascido duas crianças naquele dia. Como o hospital trocaria as duas?
Tentei pegar o endereço da outra mãe, mas o hospital não quis me passar. Continuei com a dúvida até que o hospital me perguntou se eu toparia fazer um exame de DNA. Quando o resultado saiu, em fevereiro de 2005, queriam que a gente destrocasse os bebês na hora. Falei que precisava de um tempo para tirar o Giuliano do peito.
Fizemos uma audiência, e eu novamente pedi prazo. A Luciana, que vivia em Piedade (a 99 km de SP), veio morar comigo. Ficou 20 dias em casa. Depois, a prefeitura alugou uma casa para ela e o Giuliano, para a gente ficar perto. Mas eles não se aceitaram.
O Giuliano não conseguiu se acostumar com ela, e ela não se acostumou com ele. A Luciana falou que, se eu não deixasse o Vitor ficar com ela, ela não ia querer o Giuliano.
O juiz tomou a decisão de me devolver a guarda dele. A Luciana aceitou. Hoje, não mantemos mais contato. O Vitor e o Giuliano estudam juntos, brincam juntos. Eles brigam como todos os irmãos, mas vivem grudados.
Para mim, não tem diferença entre um e outro. Eu explico tudo para o Giuliano, conto que eles foram trocados. Ele só fica meio assim porque agora, que está saindo na mídia de novo a história, a molecada na escola fica perguntando.
A experiência de criar os dois é maravilhosa, embora a gente passe por dificuldades. Eu sempre fui doméstica, mas há cinco meses estou desempregada. Vivemos com a pensão por morte do meu marido, que é de R$ 1.400.
Em 2010, eu fiquei viúva. O Cláudio era pedreiro. Foi fazer uma pescaria, escorregou no rio e morreu afogado. Ficou difícil não ter ele por perto. Ele que brincava com a criançada. Tenho ainda uma filha de 14, uma de 13 e a menor, de 7.
Quero trabalhar, montar alguma coisa, uma lojinha de utensílios domésticos. Estudo eu acho que é o principal para os meus filhos terem um futuro melhor. Eu gostaria que, se possível, eles pudessem pagar uma faculdade.
Espero que não demore para sair a indenização. Meu plano é comprar uma casa nova. A minha tem seis metros quadrados, com uma cozinha e um quarto, onde dormem seis pessoas. É muito apertado.
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