Após apagão com chuva histórica, Eletropaulo ignora consumidores
Quando a médica Ana Kober, 29, chegou em casa na última terça-feira (9) às 18h e viu que estava sem energia elétrica, se preparou: sabia que a luz não iria voltar tão cedo. Tentou ligar para a AES Eletropaulo, mas não conseguiu.
No dia seguinte, às 7h30, viu que próximo a sua casa, na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, havia cabos rompidos na calçada, devido a queda de uma árvore. Ligou para a empresa de novo, que afirmou se tratar de uma situação de emergência, e que iria ao local o mais breve possível. Cinco horas depois, quando Kober passou por lá novamente, os fios ainda estavam no chão.
Esse é um dos vários relatos que chegaram à Folha denunciando o mau atendimento da AES Eletropaulo aos clientes que ficaram sem energia depois da chuva de terça, a maior do ano na capital paulista. O Procon de São Paulo registrou 38 reclamações contra a empresa entre terça e a tarde desta sexta-feira (11).
Além da maior chuva do ano, o dia também foi o pior para a rede elétrica da capital paulista. Ao todo, 128 circuitos elétricos –responsáveis pela distribuição da energia– foram afetados ao longo da chuva. No pico do temporal, 70 circuitos estavam desligados simultaneamente.
A Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia de SP), responsável pela fiscalização, cobrou da AES Eletropaulo na quarta (10) explicações sobre a falta de energia.
"Esses eventos têm se tornado cada vez mais frequentes, e as empresas devem estar preparadas para as situações como estas, como informar o consumidor, restabelecer estes serviços num prazo satisfatório", disse a agência, via assessoria de imprensa.
A Arsesp está avaliando se houve falha na prestação de serviço.
O professor de informática André Favareto, 39, morador do Perus (zona norte), afirma que, sempre que chove, a luz oscila em sua casa.
"O problema é crônico. O bairro cresceu desordenadamente e não tem infraestrutura. A energia caiu antes da chuva, na segunda-feira. Na terça ficou oscilando desde as 15h, e às 18h caiu de vez. Só foi voltar de madrugada. Na quarta caiu de novo às 18h e só voltou às 22h. Hoje de manhã piscou também", diz. "No telefone me atendem, pela internet também. O problema é que o atendimento que chamam de emergencial demora três horas para aparecer."
O administrador Sílvio Scavone, 75, precisou ligar oito vezes para a empresa antes de ser atendido, 27 horas depois do início do problema. "Não sei onde reclamar. Quero conversar com alguém que me dê informações técnicas, com um chefe, alguém que tenha autoridade para falar, mas nunca consegui."
Em janeiro, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, cobrou da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a fiscalização da AES Eletropaulo. À época, 800 mil clientes ficaram sem energia devido a um temporal. Alckmin afirmou que o governo tinha pouco poder de atuação, uma vez que a fiscalização cabe às agências reguladoras.
Na mesma época, o secretário estadual de Energia, João Carlos de Souza Meirelles, disse que estava "decepcionado" e "preocupado" com o atendimento feito pela empresa.
Em entrevista à Folha, o diretor comercial da AES Eletropaulo, Rogério Jorge, nega que tenha havido descaso da empresa para restabelecer o abastecimento de energia após a tempestade que atingiu São Paulo na terça-feira (8).
"Minha preocupação não é justificar ou desmentir. Os clientes ficaram realmente 20, 30 horas desligados mas minha preocupação é dar o contexto de quando isso aconteceu. Não ameniza, quem ficou 24 horas desligado ficou sem energia por um dia, e isso é um problemaço e irreversível", afirmou Jorge.
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