Séries e programas de TV aquecem a contratação de anões para festas
Fabio Braga/Folhapress | ||
Ator Ronaldo dos Santos Malaquias, 38, o Ronaldo Simpatia, atua em diferentes tipos de evento |
"Quando as outras pessoas olham para nós, logo remetem a duendes, gnomos, Branca de Neve. Pela própria natureza, nós carregamos uma imagem fabulosa."
A afirmação é do empresário Leonardo Fernandes, 39, que é anão e abandonou a carreira em direito há cerca de dez anos para entrar no ramo de entretenimento.
Por meio da LC5 Anões em Ação, empresa que tem em parceria com a mulher Cris Lourenço, também anã, o casal anima todo tipo de festa, de aniversários a casamentos, e também agencia outros portadores de nanismo.
Na semana passada, o grupo ganhou destaque com a divulgação do vídeo de um anão go-go boy contratado para uma festa dentro de uma delegacia em São Paulo.
Segundo empresários, esse nicho de mercado tem ganhado impulso com o sucesso de anões que se apresentam em programas da TV Record, além de celebridades como o ator Peter Dinklage, da série "Game of Thrones".
Por um cachê de cerca de R$ 300, empresas como a de Fernandes oferecem anões para dançar, fazer gincanas, distribuir bebidas ou brindes.
Eles aparecem fantasiados de segurança, Batman, Chiquinho Scarpa –lista que se multiplica conforme a criatividade do cliente. "A moda agora são os mini-mexicanos", diz Fernandes, que faz cinco festas por semana.
Alexandre Donizete, da Cia dos Anões e da Tele Happy, conta que há cerca de três anos tinha apenas seis anões em seu portfólio de freelancers. Hoje conta com 37.
"Participamos de muitos eventos corporativos, formaturas, festas de debutante. É muito animado", conta o ator Ronaldo Malaquias, conhecido como Ronaldo Simpatia.
Outro compromisso recorrente são as despedidas de solteira, segundo Donizete.
"Quando um anão dança vestido de go-go boy, mesmo que seja igual ao do vídeo da delegacia, não é sensual nem sexual. É lúdico, é brincadeira o tempo todo", diz.
Seus contratos, no entanto, determinam que os animadores podem deixar o evento caso sejam ofendidos moralmente ou fisicamente. Jogos agressivos como arremessar os anões, segundo Donizete, são inaceitáveis.
"Comigo nunca aconteceu. Mas eu procuro ficar onde está o foco da festa. Não passo num corredor onde percebo que estão os bêbados. Os convidados gostam de pegar a gente no colo para tirar foto, mas eu evito", diz Fernandes.
Especialistas em direitos humanos consideram preocupante o avanço da demanda por anões animadores de festas em fantasias cômicas.
Rubens Glezer, professor da escola de Direito da FGV-SP, afirma que o serviço, embora seja praticado apenas por um grupo, é um tipo de entretenimento que explora preconceitos e pode aprofundar o estigma para os outros.
"Não é uma causa direta, mas pode contribuir para afetar a capacidade de outros anões avançarem em carreiras como advogados, engenheiros e alcançarem postos de executivos de alto escalão. Existe uma tensão entre a autonomia e a responsabilidade das pessoas de pertencerem a um grupo", diz Glezer.
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