Estátuas de alunos mortos no massacre de Realengo geram polêmica
Usando livros e mochilas como degraus, onze crianças uniformizadas correm em direção ao céu. A cena está reproduzida nas esculturas em bronze colocadas ao lado da escola Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio, onde doze alunos foram mortos por um atirador, em 2011.
O memorial, porém, foi criticado por vizinhos e estudantes que acompanharam a instalação na quinta-feira (17).
"Vou ter que relembrar o que ocorreu todos os dias. A gente já superou", disse o estudante Marcus Vinícius Nunes, 15, que no dia da tragédia escutou os tiros.
"Serei obrigada a ver gente morta da minha janela. Fizemos um abaixo-assinado para cancelar a instalação e nada adiantou", afirmou Teresa Silva, moradora de uma casa em frente à escola.
Em 7 de abril daquele ano, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, 23, invadiu a escola com dois revólveres e atirou contra estudantes. Após ser baleado pela polícia, ele se matou com um tiro na cabeça. As investigações revelaram que o atirador sofreu bullying na infância.
Apesar do estranhamento da maioria, alguns pais de alunos aprovaram. "Não pode cair no esquecimento. A morte dessas crianças não pode ser em vão", afirmou Josilene Francisco, 48.
O memorial foi uma sugestão de onze dos doze pais que perderam seus filhos, com idades entre 12 e 15 anos. Um deles não permitiu que a imagem da filha fosse reproduzida. Uma borboleta foi usada para representá-la.
"No dia de sua cremação, uma borboleta azul voava pelo ar. Então, a representamos assim", afirmou Joseane Santos, 37, representante da associação "Anjos da Paz".
A escultora Christina Motta, 71, é a artista responsável. São dela também as estátuas de Brigitte Bardot, na orla de Búzios; Tom Jobim, no Arpoador, zona sul; e Tim Maia, na Tijuca, zona norte.
"Eles morreram jovens e de forma violenta. Além disso, pessoas de baixa renda não estão acostumadas com esculturas. Fiz algo para sair do óbvio. Por isso, elas estão correndo e levitando", disse.
O conjunto, ao custo de R$ 1,2 milhão, foi pago pela Prefeitura do Rio. "As pessoas têm dificuldade em lidar com a morte. Essa percepção irá mudar com o tempo", afirmou Vera Dias, 55, arquiteta que aprovou as peças.
Mães que foram ver as estátuas –que serão inauguradas neste domingo (20)– elogiaram. "Está bem parecida. Dá vontade de levar para casa", disse à Suely Guedes, 48. Ao dizer isso, foi interrompida por uma mulher: "Então, leva. Gasto de dinheiro público de mau gosto". Sem retrucar, Suely disse à Folha. "Que egoísmo. A dor real é minha, que perdi minha filha."
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