Operação da PF mira doleiros que movimentavam R$ 2,3 bi por ano
A Polícia Federal está fazendo uma operação nesta terça-feira para desarticular quatro quadrilhas de doleiros que atuavam em Santa Catarina e movimentavam aproximadamente R$ 2,3 bilhões por ano, desde 2011.
Estão sendo cumpridos dez mandados de prisão preventiva, 17 de prisão temporária, 68 de busca e apreensão e dez de condução coercitiva (quando alguém é conduzido para prestar esclarecimentos).
Até o início da noite, 23 suspeitos já haviam sido detidos. A PF identificou que outros dois estão viajando e um, morando no exterior.
A ação está ocorrendo nas cidades catarinenses de Itajaí, Balneário Camboriú, Itapema, Dionísio Cerqueira, Porto Belo e Joinville, além de Barracão e Curitiba, no Paraná, e Porto Alegre (RS).
Os doleiros atuavam como representantes de grandes corretoras do mercado financeiro e se utilizavam desse vínculo para realizarem transações ilegais de valores para fora do Brasil.
Segundo a PF, as corretoras não tinham participação nas fraudes nem estão sendo investigadas.
"Podemos dizer é que as áreas de 'compliance' falharam, já que não identificaram os crimes cometidos por essas pessoas", explicou o delegado responsável pela Operação "Ex-Câmbio", Christian Wuster.
MODUS OPERANDI
As quadrilhas operavam de duas maneiras. Numa delas, fraudavam contratos de importações, fornecendo dados falsos dos compradores, na maioria dos casos, usando empresas de fachada.
O outro método era pelo sistema de dólar cabo, mas sem que o dinheiro saísse do Brasil. Os doleiros recebiam uma quantia em território nacional e, com a colaboração de parceiros no exterior, depositavam o valor equivalente numa conta do país indicado.
"Essa é uma espécie de compensação bancária, mas as transações eram realizadas às margens das autoridades monetárias. Os suspeitos mantinham contas em cassinos nos Estados Unidos e na Argentina", afirmou o delegado.
A maior parte da clientela dos doleiros era formada por empresário do ramo imobiliário e de comércio exterior.
Com o objetivo de ocultar os lucros adquiridos, as quadrilhas usavam laranjas para comprar imóveis, carros de luxo e abrir contas bancárias. Dois gerentes de grandes bancos brasileiros foram identificados pela PF como cúmplices dos doleiros.
Cada quadrilha tinha entre quatro e oito pessoas. No topo da cadeia hierárquica, o doleiro; abaixo dele, um ou dois gerentes; e na ponta da organização criminosa havia ainda os operadores.
O delegado Christian Wuster estima que, juntas, as quatro organizações criminosas lucraram aproximadamente 10% dos R$ 2,3 bilhões que movimentavam por ano, ou seja, R$ 230 milhões.
NORMAS
Para Wuster, as normas em vigor de fiscalização dos chamados correspondentes cambiais, agentes do mercado financeiro que representam as corretoras, abrem brechas para crimes como os descobertos pela Operação Ex-Câmbio.
"Os agentes não precisam de uma autorização específica do Banco Central para trabalhar. Basta firmar um contrato com uma corretora e atuar. Os contratos até são encaminhados para o BC, mas apenas para registro. O BC fiscaliza as corretoras, não os agentes", afirmou o delegado.
INUSITADO
Durante a operação, os policiais acompanharam episódios inusitados. Num dos endereços onde houve busca e apreensão, foram encontrados R$ 280 mil, além de dólares, guardados dentro de um urso de pelúcia.
Um dos suspeitos, ao ver a chegada das viaturas da PF na porta de sua casa, atirou uma maleta, também recheada de cédulas, pela janela. Já uma mulher, também alvo da PF, fez o mesmo com uma sacola de documentos.
Ao final do dia, os policiais apreenderam, no total, R$ 1,2 milhão e US$ 90 mil.
A Folha apurou também que entre os presos estaria o ex-jogador Fábio Pinto, que atuou em equipes como Internacional e Grêmio. Não se sabe ainda qual seria a participação dele no esquema.
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