PMs serão julgados por tortura e morte do 'Amarildo do DF'
O auxiliar de serviços gerais Antonio Pereira Araújo, 32, foi abordado por uma equipe da Polícia Militar de Planaltina (DF) na madrugada de 27 de abril de 2013.
Alcoolizado, estava confuso, com "alucinações", falava alto e teria tentado entrar em uma chácara. Ele foi levado pela PM a uma delegacia de Polícia Civil e, como não tinha passagem pela polícia e não havia acusação formal, foi solto em seguida.
A partir daí, Araújo não foi mais visto. Os restos mortais foram achados quase sete meses depois, em um terreno baldio, com fraturas em quatro costelas causadas por "agente contundente", o que provavelmente levou a uma hemorragia interna.
Como o desaparecimento de Araújo ocorreu dois meses antes do sumiço do pedreiro Amarildo Dias de Souza na favela da Rocinha, no Rio, após ter sido detido por PMs, o caso passou a ser citado na imprensa regional como "Amarildo do DF".
Descobrir o que ocorreu entre a chegada da PM e a morte de Araújo virou uma obsessão para seus irmãos, que tocam a funilaria em que Araújo trabalhava e morava.
Maurício, 30, e Silvestre, 37, localizaram testemunhas e alimentaram a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do DF, que em junho concluíram pela acusação de crime de tortura contra dois PMs, o sargento Carlos Roberto José Pereira e o cabo Silvano Dias de Sousa.
Segundo a investigação, os policiais derrubaram e agrediram Araújo, produzindo ferimentos que levaram à morte. Um dos PMs se tornou peça fundamental na apuração, ao confirmar a abordagem violenta. Em julho, a Justiça acolheu a denúncia e abriu ação penal contra os PMs.
O esqueleto de Araújo ficou mais de um ano no IML (Instituto Médico Legal) a pedido da família, que não aceitava removê-lo antes do fim do inquérito. Só foi enterrado após a acusação ser formalizada. "Tomara que o Senhor consiga um lugar bom para ele, porque a Terra não foi boa, não", disse Silvestre nesta sexta (25) à beira da sepultura do irmão.
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CRONOLOGIA - 'AMARILDO DO DF'
> Antonio Pereira de Araújo, 32, vivia com irmãos em uma oficina em Planaltina (DF)
27.mai.13
> Depois de ser visto embriagado, Araújo é levado pela PM à delegacia, por volta de 5h40. Em seguida, é liberado
21.nov.13
> Os restos mortais de Araújo são encontrados a cerca de 1,5 km da delegacia. Perícia constata fraturas em pelo menos quatro vértebras
7.jan.14
> Polícia intercepta conversa entre testemunha e PM, na qual combinam uma versão que procurava isentar os PMs de violência contra Araújo
14.mai.15
> A Polícia Civil pede a prisão preventiva do sargento Carlos Roberto José Pereira e do cabo Silvano Dias de Sousa, acusados de crime de tortura
9.jun.15
> Ministério Público denuncia os dois policiais por tortura
Fonte: Inquérito da Polícia Civil
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