Com meses de atraso, Alckmin conclui 'rodoanel da água' contra rodízio
Se engenheiros solucionarem alguns entraves de última hora, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) inaugura nesta quarta-feira (30) a mais importante obra para evitar, ao menos a curto prazo, a adoção de um rodízio de água na Grande São Paulo.
Trata-se de uma interligação, por meio de 9 km de adutoras, que levará água do cheio reservatório do Rio Grande (braço da represa Billings) ao crítico Alto Tietê, manancial no extremo leste da região metropolitana.
O objetivo inicial é que metade dos 4.000 litros de água que serão bombeados a cada segundo seja usada para encher represas do Alto Tietê –manancial atualmente com 15% de sua capacidade.
A outra metade da água bombeada será empurrada por meio da rede de abastecimento para residências das zonas norte e leste da capital.
Essas áreas eram originalmente atendidas pelo Cantareira, o maior sistema da Grande SP e em situação mais crítica (12,6%, contando já com duas cotas de volume morto, que é a porção de água no fundo das represas).
Com a finalização dessa obra, inicialmente prometida para maio por Alckmin, a Grande SP ganhará uma espécie de "rodoanel da água" e deixará a área do Cantareira menos vulnerável –o sistema que atendia 9 milhões de pessoas antes da crise hoje atende cerca de 5 milhões.
Nesta terça (29), véspera da inauguração, o rompimento de três conexões das adutoras deu um susto nos engenheiros da Sabesp, a estatal de água do Estado de SP.
Até o início da noite, operários tentavam encontrar uma solução para os danos, para que o governador possa apertar o botão de acionamento das bombas.
Os incidentes ocorreram no início da tarde, quando engenheiros realizavam os primeiros testes com água. Por segurança, essa experiência foi realizada apenas em um dos dois conjuntos de tubos.
Um dos vazamentos ocorreu em frente à casa de Maria Scarpanti, 58. Uma válvula acoplada aos tubos rompeu com a pressão da água. "Eu ouvi o estrondo que até tremeu a janela. E achei que fosse a tubulação da Petrobras estourando", diz, em referência aos dutos de gás da estatal enterrados no caminho dessas novas adutoras.
Segundo engenheiros da Sabesp, esses vazamentos são comuns quando se enche pela primeira vez uma adutora com água. "A adutora está íntegra, os problemas foram pontuais e vamos reparar o quanto antes", disse o engenheiro Guilherme Paixão.
CORRIDA
Sob o ponto de vista da engenharia, a obra é arrojada: usa bombas gigantes para retirar água de uma represa, tem um conjunto de adutoras que faz um sobe e desce em morros antes de desembocar em um córrego de outro manancial e contou até com mergulhadores para ajudar no trabalho de ligação dos dutos.
Já do ponto de vista da execução, houve atrasos e autorizações ambientais a jato.
Os operários que estão à frente da obra desde março, por exemplo, sempre tiveram que correr contra o tempo.
Em janeiro, quando o governador fez a promessa de entregá-la em maio, a Sabesp não tinha licenciamento, equipamentos nem contratos.
O licenciamento ambiental é um dos questionamentos do Ministério Público à interligação, já que a Sabesp teve apenas que entregar um estudo de impacto ambiental simplificado para obter a autorização de outros órgãos do próprio governo do Estado.
Além disso, antes de realizado, o projeto deveria passar pela consulta a entidades ambientais públicas, como comitê de bacias e conselho estadual do meio ambiente, o que até agora não ocorreu.
Beneficiado com a obra, o Alto Tietê é o sistema que mais sofreu no período sem chuvas deste ano. Do início de maio até agora, perdeu 44,2 bilhões de litros de água, contra 27,9 bilhões do Cantareira.
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