Tribos da Paulista: Veja figuras que podem ser vistas na avenida fechada
Como em cidades do interior, há quem fique sentado em uma cadeira de praia assistindo aos pedestres e ciclistas no novo espaço de lazer dominical de São Paulo.
Esse observador da avenida Paulista pode registrar, ao longo do dia, protestos, músicos em uma esquina própria e dançarinos em outra, jogos, intervenções e encontros fortuitos. Ali, as pessoas interagem e passeiam, não passam, dizem os frequentadores pró-Paulista fechada para carros aos domingos (são 47% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha ).
Outros 43% são contrários à medida, assim como o Ministério Público. Um elemento permanece igual, na Paulista aberta ou fechada, com chuva ou sol: o Elvis, cover-instituição da avenida.
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À MÁQUINA
"Avenida Paulista. Domingo. Manifestações dos refugiados negros." Na esquina em frente à do Masp, Tatiana Schunck, 36, registra em uma máquina de escrever o que escuta e o que vê.
Uma cadeira vaga ao lado da sua convida estranhos a se sentarem. Palavras trocadas com interlocutores que a abordam espontaneamente também são registradas –"Posso tirar uma foto?", escreve, replicando a pergunta do fotógrafo da Folha.
"Vou andando e paro onde sinto que as pessoas vão parar", diz, sobre o ponto escolhido na Paulista.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
A escritora e atriz Schunck, 36, registra em uma máquina de escrever o que escuta e o que vê na avenida Paulista fechada aos domingos |
SALSA NA CALÇADA
Em frente ao Club Homs, um grupo de professores e competidores de salsa dança sem parar, ocupando toda a calçada, e convida os ciclistas a participarem. Uma roda se forma para assistir à apresentação.
"Não esperava que as pessoas parassem para assistir", diz a professora de dança Carine Morais, 33, ao lado de Rafael Barros, 29, celebrando a roda que se formou para acompanhar a apresentação.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
A professora de dança Carine Morais, 33, ao lado de Rafael Barros, 29, ocupam as calçadas da avenida Paulista, aberta aos domingos, com uma roda de salsa |
TIME DO IMPROVISO
Tudo começou com uma bola de futebol. Em frente ao parque Trianon, o artista argentino Alberto del Risco, 38, levou a bola e chutou para Adrián Fonseca, 36 –ambos expunham suas obras na calçada.
Também argentino, Lionel ("como o Messi") Huenuquir, 26, juntou-se a eles. De bicicleta, o empresário Maurice Cohen, 25, parou para ver, tirou os sapatos e se jogou na pelada.
"Quando eu ia ficar descalço na Paulista?". Fizeram embaixadinhas, trocaram telefones e seguiram seus rumos.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Time de futebol improvisado fazem pelada em plena avenida Paulista, fechada aos domingos |
JAZZ NA BELA VISTA
Começa a garoar na hora em que o duo de músicos encerra "Oleo", gravada por Miles Davis.
Quem sopra o sax é Mariah Rodrigues, 18, uma mineira recém-chegada a São Paulo; a guitarra semi-acústica fica nas mãos de Ricardo Troccoli, 25, um músico brasiliense –os dois se conheceram em um conservatório musical da cidade.
Jazz, bossa nova e samba compõem a trilha sonora dos ciclistas e pedestres da Paulista que passam na altura da rua Itapeva. Sob uma grande árvore que protege os dois da chuva, recomeçam: "Stella By Starlight".
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Os músicos Mariah Rodrigues, 18, e Ricardo Troccoli, 25, tocam jazz, bossa nova e samba na avenida Paulista |
AMARELINHA E BAMBOLÊ
Da casa da avó para a avenida cartão-postal da cidade: pular corda, jogar queimada, brincar de amarelinha, girar bambolê. "Queremos dar vida às pessoas. Queremos que elas brinquem na rua", diz o empresário mineiro, Nelsinho Santos, 36, do Movimento PaulistaAberta.
Em frente aos escadões da Gazeta, ele e outros integrantes do grupo brincam de inventar brincadeiras. Nos planos para os próximos domingos, futebol de botão e dança das cadeiras.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
"Queremos dar vida às pessoas", diz Nelsinho Santos, 36, do Movimento PaulistaAberta |
"NÃO FOI ACIDENTE"
As asas eram do dia anterior –"como eu já tinha saído fantasiada ontem, aproveitei para vir hoje assim", conta a vendedora Lucimeire Peres, 31, cicloativista nas horas vagas.
"Todo mundo vem aqui protestar", diz, um pouco ofuscada por uma manifestação de refugiados ao lado de onde estava, próxima ao Masp. De anjinha, botas e bike pintadas de prata, ela prestava uma homenagem aos ciclistas atropelados da cidade.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Vendedora e cicloativista nas horas vagas, Lucimeire Peres, 31, veste asas para protestar contra ciclistas atropelados na cidade |
CONTRA XENOFOBIA
Pelo megafone, o congolês Pitchou Luambo, 34, que vive há cinco anos no Brasil compartilha: "Nós só queremos sobreviver".
Ao redor, ciclistas e pedestres que passavam pela feirinha do Masp param e escutam.
Mesmo com todo o espaço da avenida Paulista para protestar, o grupo de refugiados contra a xenofobia e o assassinato de um haitiano em Santa Catarina escolhe o museu como ponto de partida, um clássico. "Meu filho vai ser brasileiro. Amanhã, meu filho vai casar com o filho de vocês", diz Luambo.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
O congolês Pitchou Luambo protesta na avenida Paulista contra xenofobia |
SAMURAI DAS CORDAS
A corda é tão rápida que faz um ruído rasgante. Perto do conjunto nacional, o estudante de educação física Matheus Lima, 22, atrai transeuntes pulando corda com a velocidade e destreza de um samurai com sua espada.
O objetivo? Estimular pessoas a praticarem a modalidade. "Geralmente, pela correria do dia a dia, pouca gente para. Hoje o pessoal estava receptivo", afirma.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
O estudante de educação física Matheus Lima, 22, pula corda na avenida Paulista |
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