Embalados por samba-enredo de 2016, integrantes de escola fazem tatuagens
Raquel Custódio de Oliveira, a tia Raquel, sempre foi contra tatuagens e proibiu os dois filhos de aplicarem desenhos na pele. Ela avaliava que a prática era coisa de gente desocupada.
Há três semanas, porém, ela mudou de ideia. Aos 69 anos, tia Raquel cravou no pescoço três rosas formando um buquê. Tudo por amor à sua escola de samba, onde é madrinha da ala das baianas.
"Como não uso roupas muito decotadas, escolhi o pescoço para que todos pudessem ver a 'tattoo'. E tinha de ser do lado esquerdo, porque no direito, como uso minha faixa para desfilar, ficaria tapada", diz tia Raquel.
Assim como ela, cerca de 200 integrantes da escola de samba Rosas de Ouro, da zona norte de São Paulo e terceira colocada no Carnaval deste ano, resolveram pintar a pele. Pelo menos 120 pessoas fizeram uma tatuagem pela primeira vez.
A ação dos sambistas é embalada pelo enredo que o grupo irá apresentar no ano que vem: "Arte à flor da pele - A minha história vai marcar você!", criado pelo carnavalesco André Cezari.
Outra que admite que tinha "ressalvas" em relação à tatuagem é a própria presidente da escola, Angelina Basílio, 58, que também escolheu o desenho de três rosas. Ela botou a imagem no tornozelo direito durante uma sessão que durou três horas.
"Quando criança, visitava um tio preso no Carandiru [desativado em 2002]. A imagem que guardei de tatuagem por muitos anos foi ligada a criminosos. Demorei para entender que meu pensamento era de puro preconceito."
A presidente se diz "surpresa" com o nível de adesão às tatuagens na escola.
"É uma demostração de amor incondicional. Não pedimos para ninguém aderir, é uma escolha e cada um desenha o que quiser, aquilo que represente um sentimento, uma história, uma conquista, um amuleto."
MARATONA
Em 31 de janeiro do ano que vem, a Rosas de Ouro fará, dentro de sua quadra, a segunda maratona de tatuagens –primeira foi em novembro–, que contará com 85 tatuadores profissionais que cobrarão valores "simbólicos" para desenhar na pele de quem desejar.
Parte do valor arrecadado será doado para uma instituição de caridade.
Na primeira edição, foi levantado um total de R$ 8.850 e 31 pessoas optaram por estampar o símbolo da Rosas de Ouro na pele.
Intérprete da escola há onze anos, Darlan Alves já tinha o desenho de um boneco no punho esquerdo para festejar o filho Gabriel, 9.
Embalado pelo novo enredo da escola, ele tatuou agora o desenho de uma boneca, no punho direito, para homenagear a filha Júlia, 4.
"Fazer uma tatuagem não é algo barato, ainda mais nos grandes estúdios. Com essa oportunidade dada pela escola, muita gente que tinha o desejo de se tatuar tem uma oportunidade. Depois é divertido ver o pessoal postando as imagens nas redes sociais e fazendo o maior sucesso", conta Alves.
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