Escura e estreita, passagem de pedestre vira 'toca do medo' em SP
Na Toca da Onça, não importa o horário do dia, qualquer um parece presa fácil. A passagem subterrânea que liga as ruas John Harrison e William Speers, na região do Mercado da Lapa (zona oeste de SP), tem 76 metros de extensão e passa por baixo dos trilhos das linhas 7 e 8 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Caminhar por ali é transitar apreensivamente em meio à escuridão com o receio de ser assaltado, de cair ou de bater de cara em outro pedestre. O túnel é escuro, estreito, quando chove inunda, mas é fundamental para quem transita pela região. Não usá-lo significa ter de andar quase um quilômetro e meio a mais.
A Folha esteve no local na quarta (17) e na sexta (19). Na quarta, a escuridão imperava. Era normal ver pedestres usando a lanterna do celular para enxergar o caminho. Na sexta, um dia após contato da reportagem com a Subprefeitura da Lapa, lâmpadas foram instaladas e funcionários de uma empresa raspavam a parede da entrada do túnel –que está pichada.
Em nota, a subprefeitura diz que fez reparos de "execução de serviços gerais de manutenção preventiva, corretiva, reparações, adaptações e modificações da área". Afirma também que "mantém um trabalho diário de zeladoria no local, com serviços de limpeza e manutenção. Em dias que há registro de alagamentos, há um atendimento especial às áreas afetadas pela chuva".
Mas não é isso o que dizem os frequentadores. Desde 2010, a recepcionista Cláudia do Amaral, 35, passa pelo túnel em todos os dias úteis. Ela afirma que desde a metade do ano passado as condições do local pioraram muito. "Morro de medo de sofrer algum abuso ou de ser assaltada. Nunca vi roubo, mas não uso o celular de jeito nenhum lá dentro e tiro os fones de ouvido."
'WALKING DEAD'
O ambulante Cicero Tavares de Moura, 57, que trabalha ao lado da escadaria que dá acesso à passagem, já presenciou cenas de roubo ocorridos dentro do túnel. Ele afirma que os assaltantes ficam observando do lado de fora e escolhem suas vítimas. A Secretaria da Segurança Pública do Estado, em nota, diz que não houve registro de crime no local neste ano.
Os jovens Márjori Tamires e André Wansowitsch, ambos com 21 anos e casados, estiveram juntos pela primeira vez na Toca da Onça na quarta (17). Ele já havia passado pelo local, "mas faz muito tempo, uns cinco anos atrás".
Márjori, que precisa do auxílio de uma bengala para caminhar, nunca esteve ali, entretanto. "Estou lendo os livros do 'The Walking Dead' [série da franquia que começou com quadrinhos sobre zumbies e se tornou série de TV]. Tive que andar igual a um zumbi. Você não sabe se tem um buraco na frente ou qualquer outro obstáculo. Dá a impressão que a gente vai cair a qualquer momento."
ORIGEM DO NOME
Há pelo menos duas versões para a origem do nome da passagem subterrânea Toca da Onça, um antigo encanamento de esgoto. Segundo moradores, em meados da década de 1950, a população acreditava que onças habitavam o túnel. Já outros explicam que nos anos 1990, havia uma banca de jogo do bicho no local.
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