Vacinas podem chegar tarde demais para combater surto de zika, diz OMS
Martial Trezzini-12.fev.2016/Efe | ||
Marie-Paule Kieny durante coletiva sobre o vírus da zika na Genebra, em fevereiro |
Ao término dos três dias da reunião do comitê de emergência da OMS (Organização Mundial da Saúde) para a zika, uma das conclusões é que os métodos usados até agora no combate ao principal vetor da doença –o mosquito Aedes aegypti têm sido ineficazes.
A OMS também adotou posição pessimista sobre o lançamento de uma vacina contra a zika, que poderia chegar "tarde demais" à América Latina, afirmou Marie-Paule Kieny, uma das diretoras da entidade, em entrevista coletiva nesta quarta (9) em Genebra.
"Nenhuma vacina ou terapia [específica para a zika] foi testada ainda em humanos."
Sobre as formas clássicas de combate ao aedes, Kieny disse que o uso de inseticidas –como fumacê e larvicidas– não "teve impacto significativo no controle da transmissão da dengue e isso também deve ocorrer com a zika".
Na terça (8), a OMS já havia divulgado documento alertando sobre a resistência do mosquito a inseticidas e recomendando mais controle desses produtos químicos.
Segundo a entidade, muitos governos têm optado por inseticidas baratos e de eficácia moderada para evitar gastos elevados. Isso pode resultar em insetos mais resistentes e na necessidade de recorrer a inseticidas mais caros, o que poderia afetar a capacidade de garantir a cobertura em toda a área atingida.
Na opinião da OMS, um plano de combate ao aedes deve envolver diferentes métodos, como fazer uma rotatividade de diferentes produtos químicos, não repetindo o mesmo inseticida durante um período de dois anos.
LARVICIDAS
Diante desse quadro, a OMS estabeleceu como prioridades o desenvolvimento de: testes para detecção de dengue, chikungunya e zika (doenças transmitidas pelo aedes); vacinas baseadas em vírus não vivos para mulheres em idade fértil; e ferramentas inovadoras para combater o mosquito.
Exemplos desses métodos inovadores seriam o uso de mosquitos geneticamente modificados para conter o surto ou a infecção desses insetos com a bactéria Wolbachia, que os torna inférteis. Essas experiências, porém, devem ser conduzidas com "extremo rigor", disse Kieny.
A ineficácia dos atuais métodos de combate ao mosquito já foi tema, no mês passado, de uma nota técnica da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
Um ponto polêmico tem sido o uso dos larvicidas inibidores de crescimento, que impedem o desenvolvimento de características adultas do mosquito, como asas e maturação de órgãos reprodutivos.
Para Lia Giraldo, pesquisadora da Fiocruz e coordenadora da nota técnica da Abrasco, o Ministério da Saúde deveria interromper o uso desses produtos. "Sabemos que ele tem efeito teratogênico [que causa má-formação] em mosquitos. Um produto com essa ação não deveria ser colocado na água de beber." O ministério diz que o produto é seguro.
VACINA
Jorge Kalil, presidente do Instituto Butantan de São Paulo, afirmou, em Genebra, que trabalha com um projeto de vacina com "vírus enfraquecido", o que possibilitaria testes mais rápidos em mulheres em idade fértil e gestantes.
"Achamos que a epidemia de zika vai durar dois ou três anos na América Latina. Em seguida, deve, provavelmente, desaparecer porque a maioria das pessoas já vai ter entrado em contato com o vírus. Mas tende a reaparecer em alguns anos." Segundo Kalil, "em três anos, uma vacina estaria pronta".
Quanto aos recursos para acelerar a pesquisa, o presidente do Butantan afirmou que agências dos Estados Unidos e da Europa demonstraram interesse no projeto.
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