Estrangeiros adotam crianças 'rejeitadas' por pais brasileiros
Quando Gabriel (nome fictício) foi para a adoção em 2012, suas chances de ganhar uma nova família eram bem pequenas, segundo as estatísticas. Não é branco e já tinha oito anos, perfil que pretendentes a pais adotivos mais rejeitam no Brasil.
A situação mudou quando ele conheceu, um ano depois, Arthur e Louis (nomes fictícios), um casal francês.
Arquivo Pessoal | ||
O italiano Francesco (nome fictício) aguarda adoção de irmãos |
Entregar crianças para adoção a famílias que vivem em outros países é a última opção da Justiça brasileira, já que os casais daqui têm prioridade nos processos. Mas às vezes é a única.
Pais brasileiros são exigentes: a maior parte deles não quer crianças negras, com mais de oito anos ou que possuam irmãos. E a maioria das crianças abrigadas tem essas características.
Por isso, desde 2000, 5.150 crianças foram adotadas por estrangeiros no Brasil, segundo a Acaf (Autoridade Central Administrativa Federal), órgão vinculado à presidência que regulamenta a adoção internacional no país.
As famílias estrangeiras precisam se habilitar em seu país de residência e procurar uma associação reconhecida pelo governo brasileiro, que faz a mediação do processo com a Justiça daqui. Há 19 delas credenciadas hoje, da Itália, França e Estados Unidos.
Os italianos são os que mais adotam no Brasil. A taxa de fecundidade do país é uma das mais baixas do mundo: 1,4 filho por mulher, de acordo com o Banco Mundial.
Foi justamente a longa espera por uma criança na Itália que trouxe Francesco e Giulia (também nomes fictícios) a São Paulo. Eles estão em estágio de convivência (período de pelo menos um mês que passam com as crianças no Brasil antes de concretizarem a adoção) com um menino de 11 anos e a irmã dele, de três.
"Construir uma relação de afeto com crianças não tão pequenas é mais difícil", dizem. Mas tem dado certo. "Não vamos chamar de identificação imediata, mas sentimos que podemos dar amor, carinho e educação a elas."
Eles conheceram os irmãos por meio da associação italiana AiBi. Monica Natale, representante no país, explica que instrui a família a aprender um pouco de português antes de vir. "Eles [as crianças] geralmente vêm bem crus, falando pouco. Mas isso não é impedimento. Logo que vão morar fora, aprendem a nova língua", diz.
Adoções internacionais - Por país de acolhida em 2014, em %
Foi o que aconteceu com o mineiro Gabriel. Ele morava em um abrigo em Belo Horizonte quando conheceu Arthur, que já tinha morado no Brasil. Em menos de seis meses, o menino já falava francês melhor do que a língua materna. "Quando ele chegou na França, gostava muito de abraçar os colegas, mas as crianças não estavam acostumadas e se assustavam", lembra Arthur, rindo.
Para evitar o tráfico internacional de pessoas, a Acaf continua acompanhando a família por dois anos após a adoção. Além disso, o Brasil só faz adoções com países signatários da Convenção de Haia, acordo de proteção contra o sequestro de crianças.
QUEDA
O número de adoções internacionais vem caindo, segundo a Acaf. No ano passado, foram 115, contra 300 em 2012 e 431 em 2009.
"Alguns fatores podem explicar: um aumento nas adoções nacionais e mais famílias brasileiras que hoje aceitam irmãos. E é um procedimento caro para os estrangeiros, há autenticações de documentos, a família precisa passar um período no Brasil", explica George Lima, coordenador geral da Acaf.
Adoções internacionais - Por Estado da criança em 2014, em %
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