Waldemar Rossi (1933-2016)
Mortes: Um operário de fé contra a ditadura militar
Diante de mais de 100 mil pessoas, Waldemar Rossi se emociona ao ler uma mensagem no estádio do Morumbi, zona oeste de São Paulo. Fala do regime militar, tortura, perseguição. Também menciona as más condições de trabalho no país. Ao final, é abraçado pelo papa João Paulo 2º.
O operário havia se preparado por 30 dias para o evento ocorrido em uma noite chuvosa de julho de 1980. Até credencial especial teve, já que foi barrado pela segurança. Militante sindical, preso pelo regime militar, foi classificado como "subversivo".
Nascido em Sertãozinho (a 333 km de São Paulo), Waldemar começou a trabalhar com apenas dez anos. Foi boia-fria e pedreiro, antes de se tornar metalúrgico e conhecer a JOC (Juventude Operária Católica). Segundo de oito irmãos, assumiu os cuidados da família após a morte do pai, quando tinha 17 anos.
Religioso e já voltado para a causa operária, foi para a capital paulista no início dos anos 60 para ser coordenador da JOC. Virou referência na militância que ocorria nas fábricas –trabalhou em 18 delas. Queria independência de classes, autonomia em relação aos partidos, independência em relação ao Estado.
Candidatou-se três vezes a presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Nunca ganhou. Mas também não desanimou.
Ajudou a fundar a CUT e esteve na Comissão da Verdade. Aposentado, fazia palestras e escrevia para jornais. Dizia que todos são capazes de transformar o mundo.
Morreu dia 4, aos 82, após falência de múltiplos órgãos. Deixa mulher, cinco filhos, sete netos, quatro noras, um genro, cinco irmãos e amigos.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
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