Distribuição de brinquedos anima Dia da Criança no centro de São Paulo
Eram mais ou menos 15h desta quarta-feira (12) quando alguém parou na esquina da rua Roberto Simonsen, centro de São Paulo, e falou: "Gente, vamos formar uma fila ali porque tem umas moças dizendo que vai ter distribuição de brinquedo".
Naquele momento, as crianças ocupavam a rua: andavam de bicicletas, chutavam bolas e ou empurravam carrinhos de plástico. Moradoras de rua ou de ocupações passaram o Dia da Criança ali para conseguir doações de brinquedos –ou mesmo comida.
"A gente vem no Natal, no Ano Novo, na Páscoa. Sou sozinha. O que eu ganho só dá para comer. Não posso dar brinquedos para eles", explica Michele Quirino, 30, desempregada, mãe de quatro filhos pequenos.
Ela mora em uma favela em São Mateus, extremo da zona leste, e, nesses dias comemorativos, costuma levar as crianças para o centro. Durante a semana, vende balas no farol enquanto os filhos ficam na escola. O pai dos meninos morreu há cinco meses, no Dia das Mães, de overdose de crack.
Nathaly Pereira, 27, conta história parecida: tem quatro filhos, está desempregada, vive numa ocupação. "Quem dá emprego para ex-presidiária? Ninguém. Tem todo tipo de preconceito, me xingam, xingam meus filhos, dizem que mereço morrer", diz ela, que cumpriu três anos de prisão.
Ela costuma pedir dinheiro na avenida Paulista, nos Jardins e na Consolação. "Ando o mundo, moço. Peço é para quem tem", diz.
Já no Pátio do Colégio, ela e outras mães –e dezenas de crianças– formam a fila para receber os brinquedos que serão dados pelo "Ser Amor" —um grupo de amigos que faz doações para moradores de rua de vez em quando.
Um palhaço tenta acalmar as crianças, que estão ansiosas pelos presentes. "Quem pegar essa bolha de sabão ganha um videogame", diz o palhaço. Ele assopra uma bolha, que sai voando e ninguém dá a menor bola. "Você fica aí só metendo o louco", responde um menino, de uns dez anos, meio bravo.
Demorou uma eternidade até que dois carros encostaram com uma pilha de sacolas azuis e vermelhas. Outro carro parou num outro ponto, com mais brinquedos.
Começa a distribuição e tudo vira um caos: crianças correm por todo o Pátio do Colégio, tentando pegar mais e mais presentes. Gritos, choros, brigas e brincadeiras –estão todos muito felizes.
Dezenas de crianças cercam uma das voluntárias, responsável por distribuir brinquedos de bolha de sabão. "Eu já te dei um, tem um monte de criança que não ganhou", grita ela contra um menino que queria dois.
A cabeleireira Karime Bispo, 22, não pegou nada: seu filho tem só quatro meses. Ela está mais interessada em doações de comida ou produtos de higiene para o bebê.
Há um ano, teve de fechar seu salão no Itaim Paulista (zona leste). "Veio essa crise, os clientes começaram a desaparecer", reclama. Acumulando o aluguel, desempregada, foi viver numa ocupação no centro. "Agora faço bicos e peço". Diz que recebe R$ 37 do Bolsa Família.
Já passa das 17h, e uma mãe chega correndo com um menino de uns três anos. "Moço, sabe onde pego brinquedo pro meu filho?", pergunta. Não havia mais nada, e o menino corria sem rumo pelo Pátio do Colégio.
Então o mesmo grupo de amigos começa a doar salgados, doces, fraldas e pasta de dente. A fila ficou bem maior.
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