Cratera engole casal em moto em SP; 'meu pé não achou o chão', diz vítima
Volnei Valentim | ||
Casal em moto caiu dentro de cratera de obra da prefeitura na zona sul de São Paulo, nesta quinta (16) |
Ao longo desta semana, o analista financeiro Vinícius Fonseca, 31, passou todos os dias ao lado de um buraco no asfalto da avenida Doutor Guilherme Dumont Vilares, na zona sul de São Paulo.
Com a mulher, a analista contábil Elenice Souza, 29, na garupa da moto de 250 cilindradas, ele contornava o obstáculo e seguia seu trajeto até o trabalho do casal, em Taboão da Serra (Grande SP).
Mas funcionários da Prefeitura de São Paulo chegaram com pás e picaretas, aumentaram a cavidade para arrumar uma galeria subterrânea de águas pluviais e perceberam um cano de esgoto também quebrado por ali.
Com a obra, o buraco foi crescendo e crescendo a cada dia, conta Vinícius, que, a caminho do trabalho, acabou caindo com a mulher e a moto na manhã desta quinta (16) dentro da cratera que já tinha em torno de 5 m de profundidade e 6 m x 4 m de extensão, ocupando uma das duas faixas da avenida.
Eu via aquele buraco todo dia, mas nunca imaginei que fosse parar nele, disse. Segundo Vinícius, era perto de 8h quando ele desacelerou a moto até parar no semáforo vermelho. Como de costume, levaria o pé direito ao chão para aguardar o recomeço da rota. Mas desta vez não deu certo. Meu pé não achou o chão, afirmou à Folha, sem saber direito o que ocorreu.
Ele acha que pode ter escorregado no asfalto cheio de areia. Já Elenice acha que o asfalto cedeu à beira da cratera.
De qualquer forma, a moto tombou levemente para a direita, na direção do buraco, isolado por cones e uma fita de plástico. A mulher, que nunca gostou de andar de moto, se assustou e puxou o marido. Vinícius sentiu Elenice e a moto tombando. Tentei segurar por cinco segundos. Não aguentei e caímos.
Na queda, Elenice foi prensada pelo marido e por tijolos que estavam no fundo do buraco. Lá, a água da galeria se misturava com o esgoto vazando de um cano da Sabesp.
A roupa de Vinícius logo ficou encharcada com o líquido. Ainda dentro do buraco, para não se contaminar, o rapaz tirou o casaco e a camisa. Juntou muita gente no entorno do buraco para ver e ajudar. Arranjaram uma escada e jogaram para que a gente saísse de lá, disse.
Com dores na costela e na coluna, Elenice não conseguiu subir a escada. Ao ver a dificuldade da moça, alguém no topo gritou: Não mexe nela. Deixa ela imóvel.
Um pedestre arranjou um pedaço de tapume e o mandou para dentro do buraco para que fosse improvisado como maca. Ali, Elenice aguardou o resgate dos bombeiros por 30 minutos. Aí eu assustei. Achei que pudesse acontecer algo grave com ela, conta ele.
Para serem socorridos, o casal recorreu ao hospital do plano de saúde, onde foram submetidos a uma bateria de exames. Sem fraturas ou lesões graves, eles deixaram o hospital no início da noite.
Ainda com sapatos e calças sociais, que usaria no trabalho, e com um avental e colar cervical do hospital, Vinícius diz que agora terá que vender a moto. Eu optei por ter a moto já que não temos dinheiro para comprar um carro. Elenice nunca gostou. Mas agora vou ter que vender a moto.
No fim da tarde de quinta, funcionários da prefeitura cobriram o buraco. A camada de asfalto será recolocada nesta sexta, diz a gestão João Doria, que atribuiu a cratera ao dano na galeria de águas pluviais e tubulação da Sabesp.
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