Mãe madrugadora gruda no celular para seguir à distância rotina de filhos
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Quando está no trabalho, a pediatra Tatyana, 36, usa o celular para acompanhar o filho Bernardo, 2 |
A rotina exaustiva da médica Tatyana Ferrari Tavares de Melo, 36, é continuamente quebrada com mensagens de áudio, vídeos ou fotos que chegam pelo telefone celular. Todas elas mostram o filho Bernardo, de dois anos, dizendo "mamãeeeee", mandando beijos, fazendo gracinha, caretas ou se espreguiçando ao acordar.
Iguais a ela, milhares de mães que precisam acordar muito cedo para trabalhar e não conseguem dar um abraço matinal em seus pequenos tentam abrigar um pouco da ausência fazendo uso de aplicativos e de redes sociais.
"Dá uma dorzinha no coração. Meus plantões iniciam às 7h, não consigo vê-lo acordando três vezes por semana. Mas diminuí muito meu ritmo depois que ele nasceu. Tentei adaptar meus horários com os dele", diz Tayana.
Para ela, a tecnologia não chega a aliviar a falta, mas serve como um apoio. "Me dá tranquilidade para seguir com meus compromissos. Recebo fotos, áudios e vídeos o dia inteiro. Saber que ele está bem e feliz me ajuda."
A gerente de RH Paula Manunta Altavista, 33, tem rotina um pouco mais distante. Ela não vê a filha Alice, de um ano e meio, em nenhuma das manhãs de segunda a sexta-feira e afirma estar "totalmente resolvida" com a questão e que leva bem a situação da ausência matinal.
"Procuro fazer a qualidade do meu tempo com ela mais importante do que quantidade de tempo. Ser mãe é sempre lutar contra a culpa e optei por não me culpar. Ganhar dinheiro e tentar dar um bom futuro para ela também é importante", afirma a gerente.
Paula ficou os sete primeiros meses da vida de Alice a seu lado, integralmente, mas acha que apenas ser mãe não é o que a realiza de fato. "Uma das partes de minha vida é ser mãe, a outra é ser profissional. Vivo com leveza com essa divisão. A tecnologia ajuda nas questões mais urgentes, a monitorar preocupações", afirma ela, que já criou uma rotina com a babá do envio de informações e imagens via WhatsApp.
ENERGIA
Para a jornalista e autora do blog Mães de Peito, Giovanna Balogh Redondo Padgurschi, muitas crianças têm no período matutino seu ciclo de maior animação e energia para brincar, interagir, mas que a realidade é que nem toda família consegue vivenciar e aproveitar isso. "Boa parte das mães fica três ou quatro horas apenas com os filhos pequenos. Poucas conseguem trabalhar só um período. Quem não pode, busca maneiras de tentar amenizar a ausência, colocando em escolinha com câmeras, por exemplo. Mas nada substitui a presença."
Segundo Giovanna, mães que têm pouco tempo para dedicar aos filhos precisam prezar pela qualidade do momento, curtir a criança sem interrupções, de preferência.
É assim que faz a motorista de ônibus urbano Samantha Cristine Ferreira, 34, da Transwolf. Ela sai de casa por volta das 3h, quando Mikael, 2, está em pleno sono. Durante o dia, em intervalos da direção, fica de olho nas fotos do garoto e em informações do pai, que o acorda e cuida dele pela manhã.
"No começo, deixar ele pequenininho foi muito complicado, mas fui me acostumando. Quando uma mãe com um bebê embarca no ônibus, aperta o coração porque penso no meu filho. Não saio com o ônibus até vê-la sentada. Então, chego em casa à tarde, busco ele na creche e brincamos bastante."
Marcelo Justo/Folhapress | ||
Em intervalos da direção, a motorista de ônibus Samantha Cristiane confere os passos do filho pelo WhatsApp |
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, os três primeiros anos de vida do bebê são determinantes para seu bom desenvolvimento. Para isso, estímulo, atenção e amparo familiar são fundamentais nesta fase.
As mães também relatam a importância da formação de uma "rede de apoio" aos filhos como uma maneira de ficarem mais seguras.
"Família é tudo, e meus pais são os melhores. Quando pensei em ter um filho, perguntei a eles se poderiam me ajudar quando eu voltasse a trabalhar. Eles toparam. Trouxe eles de Santos (SP) e eles me ajudam demais. Fico muito mais tranquila", diz a médica Tatyana, cujo marido também assume todas as tarefas diárias com o bebê.
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