'Favela do Playcenter' avança em área cobiçada pelo mercado imobiliário
Karime Xavier/Folhapress | ||
'Favela do Playcenter', que avança sobre área vizinha ao antigo parque de diversões em SP |
Uma cobiçada área de avanço imobiliário da cidade, a Barra Funda, zona oeste de São Paulo, nas proximidades da ponte do Limão, já abriga também a expansão de ocupações irregulares.
A "favela do Playcenter", chamada informalmente assim por estar vizinha à área do antigo parque, conta atualmente com cerca de 200 barracos e não para de crescer, provocando reações de moradores e empresários da área, que estão descontentes com a situação.
As construções de madeira já tomam quase toda a extensão da rua Rubens Porta Nova e se aproximam de uma área de preservação ambiental, ao lado da marginal Tietê. Donos de terrenos ali estão colocando segurança privada para intimidar novas invasões e transtornos.
Antigos barrações desocupados que ficam na região reforçaram muros com arame farpado e grades. Um abaixo-assinado pedindo providências do poder público contra a ocupação está em circulação pelo bairro.
Para o advogado Alexandre Alves, síndico de um dos novos condomínios da região, a ocupação ilegal preocupa moradores por questões de segurança e por possível desvalorização dos imóveis, que são todos de alto padrão naquela região.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Os moradores temem aumento da violência na região e dificuldades futuras caso queiram vender seus apartamentos. Estamos conversando com outros condomínios e com empresas da área para tentarmos fazer uma ação conjunta", diz o síndico.
Com uma instalação imediatamente ao lado do terreno onde cresce a favela, a empresa de transportes Reunidas Paulista, por meio de sua procuradora Vivian de Castilho Barduci, afirma que cobra providências contra a ocupação irregular há um ano, mas sem resposta.
"O resultado da morosidade da prefeitura resultou no crescimento desordenado dos barracos", alega a procuradora, que informou ainda já ter havido um grande incêndio no local e que, atualmente, furtos de tacógrafos na garagem da empresa estão sendo registrados.
"Trata-se de algo extremamente crítico, tanto para os moradores da favela tanto aos moradores ao redor que estão à mercê dos perigos. Ainda há risco de novos incêndios no local", declara Vivian.
A prefeitura informou que "a prefeitura regional da Lapa intimou os integrantes da ocupação irregular para desocupação da área."
De acordo com a gestão Doria, vão ser adotados "os procedimentos jurídicos necessários para evitar que novas moradias sejam erguidas."
Segundo comerciantes da região, esta é a terceira comunidade que se instala no local desde o fechamento do Playcenter em 2012.
Karime Xavier/Folhapress | ||
'Favela do Playcenter', que avança sobre área vizinha ao antigo parque de diversões em SP |
FAMÍLIAS
Kátia Gilmara de Oliveira, 35, e Rosemira Ribeiro, 51, foram as primeiras a levantarem seus barracos na viela, em abril do ano passado, e assumiram a função de coordenadoras da comunidade.
Kátia, que vive de bicos, se mudou para o local com os cinco filhos depois de ser despejada de um apartamento no Limão (zona norte), cujo aluguel era de R$ 400.
O último teto de Rosemira também era nesse bairro: um barraco que pegou fogo, em 2016 –entre o incêndio e a mudança para o atual endereço, ela viveu numa praça.
As duas estimam que a comunidade já abrigue 200 famílias. Lá funcionam três comércios e, na esquina com a avenida Marquês de São Vicente, existe até um sobrado de madeira que exibia uma placa de "aluga-se".
"Sabemos do abaixo-assinado do pessoal dos prédios. Mas falam lá do alto e nunca vieram aqui", diz Rosemira.
Kátia reforça o argumento da vizinha, apontando para as tábuas de madeira que servem de portas das habitações. "Olha aí: são 11h e os barracos estão vazios e trancados a cadeado. A maioria dos moradores trabalha".
Elas não querem ficar ali, mas dizem não ter opção. Quando chove, o córrego que ladeia a ocupação transborda e invade os barracos. As áreas de proteção, segundo os moradores, trazem ratos, pernilongos e aranhas.
Um homem levou um pote de vidro com um escorpião vivo para mostrar à reportagem. "Acordei com ele em cima da cama", diz.
"A gente só quer moradia digna. Mas se não for isso, é rua" diz Rosemira.
Segundo a prefeitura, "as famílias podem procurar os serviços da rede socioassistencial da região para atendimento emergencial".
Como se trata de "ocupação recente", de acordo com a Secretaria Municipal de Habitação, "as famílias não se enquadram no atendimento habitacional provisório".
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