Quebra rotineira de bombas custa R$ 71 mil/mês sem licitação em Ribeirão
Cidade que sofre frequentemente com a falta de água --até mesmo em tempos de chuvas--, Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) tem todos os meses quatro bombas do Daerp quebradas em média. Mesmo com o defeito rotineiro dos equipamentos, o município não faz licitação e gasta mensalmente R$ 71,5 mil nos consertos.
Levantamento feito no "Diário Oficial" do município mostra que os 131 consertos realizados pelo Daerp (autarquia de água) desde 2011 custaram aos cofres públicos R$ 2,35 milhões. E apenas três empresas concentraram os reparos nesse período.
Neste domingo (13), reportagem do jornal "A Cidade" apontou que o município gastou R$ 5 milhões com esse tipo de serviço sem licitação desde 2008.
Empresa com o maior volume de consertos, a Montenegro, do Rio Grande do Sul, é a que cobra mais pelo serviço (R$ 26,9 mil por bomba contra R$ 18 mil na média geral) e a que fica mais distante de Ribeirão. Foram 54 reparos desde 2011 (41%).
Márcia Ribeiro/ Folhapress | ||
Bomba de poço artesiano do Daerp, na rotatória Amin Calil em Ribeirão; reparos custam R$ 71,5 mil por mês sem licitação |
Já a Leão, empresa que cobra, na média, o menor valor (R$ 9.400 por conserto) é a que menos realizou reparos (32 nos últimos dois anos).
Numa licitação, vence o serviço a empresa que oferece o menor valor, o que consequentemente gera economia aos cofres públicos.
A Prefeitura de Ribeirão diz, em nota, que contrata sem licitação porque o reparo é feito sempre pela mesma fábrica que vende a bomba, o que exclui o processo de concorrência pública.
Especialistas ouvidos pela Folha contestam a resposta. "Se há a previsibilidade de quebra, deveria haver um planejamento [para o problema]. Deveria haver licitação ou carta-convite [sistema no qual três ou mais empresas são convidadas para orçar um serviço]", disse Jorge Sanchez, presidente da Amarribo, ONG que defende a transparência dos poderes públicos.
De acordo com ele, a não realização de concorrência pública pode acarretar outros problemas. "Comprar sem licitação é um fator que pode gerar corrupção."
Funcionários do Daerp, que pediram para não ser identificados, disseram à Folha que muitas bombas quebram com frequência e que não há uma fiscalização para identificar quais marcas apresentam mais defeitos.
CRISE DE GESTÃO
O Daerp é um dos setores mais críticos do governo Dárcy Vera (PSD). Além da falta de água, a autarquia é acusada de ser moeda de troca eleitoral, já que, desde 2009, foi comandada pelo PR, um dos 15 partidos aliados de Dárcy.
Neste ano, a prefeita retirou o PR da chefia do Daerp. O superintendente interino é o secretário da Administração, Marco Antônio dos Santos.
PROBLEMA CRÔNICO
A falta de água é um problema crônico em Ribeirão.
Reportagem da Folha de fevereiro deste ano mostrou que mesmo com chuvas, moradores de ao menos seis bairros de todas as regiões da cidade registravam desabastecimento.
Em julho, a prefeita Dárcy Vera (PSD) demitiu o então superintendente do Daerp, Marcelo Galli, depois que três bombas apresentaram defeitos, deixando 100 mil pessoas sem água num fim de semana.
O problema persiste mesmo depois de a quantidade de poços perfurados ter dobrado durante o primeiro governo Dárcy.
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