Drama pessoal e estudo de 4 anos levam EUA a ouro sobre Brasil no vôlei
O técnico neozelandês Hugh McCutcheon, que comandou a seleção norte-americana masculina de vôlei na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, afirmou que já vinha estudando o estilo de jogo do Brasil nos últimos quatro anos. Além disso um drama pessoal do treinador serviu como motivação.
Seu estudo foi colocado em prática no domingo, quando os Estados Unidos venceram a seleção brasileira por 3 sets a 1, impedindo o bicampeonato olímpico do time dirigido pelo técnico Bernardinho e o terceiro ouro do Brasil na história.
"Nos últimos quatro anos, tentamos aprender mais sobre o sistema de jogo do Brasil, uma equipe que causou um impacto profundo no mundo do vôlei", disse.
Logo no início da Olimpíada, o sogro de McCutcheon, Todd Bachman, morreu após ser atacado pelo chinês Tang Yongming, 47, na Torre Drum, um monumento histórico muito visitado por turistas na capital chinesa.
Sua mulher, Barbara, e um guia turístico local também foram agredidos por Yongming, que se suicidou após o ato.
"Por um lado, estou sofrendo com a morte de meu sogro. Sinto um aperto no coração pelo sofrimento de minha mulher. Porém, fiquei extremamente orgulhoso da minha equipe e por tudo que fizemos nos últimos quatro anos", concluiu o técnico, que devido aos incidentes não comandou a equipe nas três primeiras partidas do torneio olímpico.
Ele só voltou ao banco contra a China, no dia 16. Quando, mais do que para o próprio técnico, a tragédia já era a maior motivação dos seus atletas para buscarem o ouro que não vinha desde o bi em 1984 e 1988.
"Nada do fizéssemos aqui iria mudar o que aconteceu. Mas tínhamos que dar esse título para o Hugh", afirmou o levantador Lloy Ball, 36, veterano do time que venceu quatro das oito partidas em Pequim, incluindo a contra o Brasil, depois de estar em desvantagem no marcador.
Durante a semana, Bernardinho chegou a alertar para o perigo da vontade extra dos rivais. "Existem três coisas que te levam a vencer. Ou você é melhor que os outros, ou está mais bem preparado, ou tem uma causa", disse o brasileiro.
Extasiado após a entrega de medalhas, McCutcheon contou sobre o "transe" em que entrou no ponto final. "Foram duas semanas muito emocionantes. Quando acabou o jogo, minha cabeça saiu de órbita."
Quando "voltou", com os atletas ainda vibrando em quadra, a primeira providência do treinador foi ligar para a sogra.
"Eu liguei e falei: "Ei, somos medalha de ouro". Ela disse que assistiu pela TV e que já estava recebendo várias ligações. Antes, Barbara mandou um e-mail desejando boa sorte. Como eu já disse antes, não podemos trazer Todd de volta, não podemos evitar o que aconteceu, mas posso curtir este momento porque estou muito feliz por esta equipe."
Depois de voltar para a família, em Irvine, na Califórnia, McCutcheon terá um trabalho complicado pela frente. De reconstrução. Boa parte dos jogadores americanos, veteranos de dois ciclos olímpicos, deve deixar a seleção.
"Temos jovens chegando e outros que já estão no time e contribuíram na campanha. Há um leque de atletas que podem ser usados."
Com a Folha de S.Paulo
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