Criador do pôster da Copa diz que já havia percebido semelhança com logo de empresa
Tatu, frevo, pandeiro, chimarrão, boi-bumbá, sandália, capoeira, café, sol, Pão de Açúcar, calçadão de Copacabana, Cristo Redentor, tucano, vitória-régia, baiana, bola de futebol.
Todos estes elementos estão no pôster da Copa do Mundo de 2014, apresentado nesta quarta-feira pela Fifa, "para que o brasileiro se sentisse ali".
Esta é uma das explicações que Ricardo Leite, sócio-diretor de criação da Crama, dá sobre o cartaz escolhido para apresentar a competição em todo o mundo.
Convidado pela Fifa para entrar no concurso que selecionou a obra, Leite conta que um grupo de designers foi formado na agência para desenvolver o pôster para "representar o Brasil em uma imagem única, simples e com profundidade.
"O ponto principal é que este é o único cartaz de todas as Copas do Mundo, reconhecido pela Fifa, que não foca em apenas um jogador. São dois disputando a bola, o que é o princípio do jogo, a essência. E dá um sentido de acolhimento, de boas vindas para os times de fora. Afinal, somos um país receptivo", explica Leite à Folha.
O designer diz que a ideia original foi mostrar uma cena de jogo por meio das pernas de atletas e o campo, ou a arena, ao fundo, formaria o mapa do Brasil.
Editoria de Arte/f |
Pôster da Copa-2014 e logotipo da Unilever |
"O mapa do Brasil não é um ícone reconhecível internacionalmente", escreveu Homem de Melo.
"Sei que 99% dos gringos não sabem como é o mapa do Brasil. O mapa é importante para os brasileiros. Sabíamos que as pessoas não iam reconhecer, mas como uma aula pode ser importante também", defende-se Leite.
UNILEVER
Na primeira versão, apenas com o mapa, não haviam as dezenas de elementos gráficos que representam os estados brasileiros. No entanto, eles foram colocados como uma forma de "orgulho" do brasileiro, para o povo se sentir "parte da festa", explica o designer.
Assim, com tantos elementos ao redor do mapa, uma coincidência foi notada por leigos e especialistas: a semelhança com o logotipo da multinacional Unilever. Das mídias sociais até a crítica na Folha, o assunto foi abordado.
"O primeiro aspecto que salta aos olhos é a referência ao símbolo da Unilever. A semelhança de grafismos é desconfortável. Considerando que o pôster terá circulação mundial, imagino que a pergunta será inevitável: a Copa é um evento da empresa?", questionou Homem de Melo.
O sócio-diretor de criação da Crama respondeu.
"A gente [da Crama] percebeu antes. O cartaz inicial não tinha os elementos. Mas tínhamos que dar mais significado a ele, identidade de comunicação, para o brasileiro se sentir ali", diz Leite. "O 'pattern' [técnica de estamparia utilizada no desenho], dentro de uma forma, não é uma exclusividade da marca da Unilever, ele existe desde sempre. Não é um recurso inédito. E nunca me preocupou essa semelhança com a Unilever. É apenas uma semelhança, um recurso igual, não me preocupou. O cartaz é muito mais do que a estampa".
Em contato com a Folha, a assessoria de imprensa da multinacional de bens de consumo confirmou que nunca trabalhou com a agência brasileira Crama Design Estratégico. A Unilever também não tem contratos relacionados à Copa do Mundo de 2014. A única ligação é que Neymar é garoto-propaganda de algumas marcas da empresa.
A escolha deste pôster, que concorria com mais duas agências, foi tomada por um "comitê" formado pelo presidente da CBF e do COL, José Maria Marin, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, os ex-jogadores e integrantes do COL Bebeto e Ronaldo, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, e o artista plástico Romero Britto.
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