Prefeitura prevê remoção de 'área VIP' de futuro Parque Olímpico
Uma bomba-relógio aguarda a Prefeitura do Rio e o Comitê Organizador dos Jogos de 2016. Ocupa a área de 33 imóveis às margens da lagoa de Jacarepaguá, na zona oeste, e tem poder explosivo similar ao do imbróglio envolvendo índios no Maracanã.
As casas estão dentro do perímetro que será ocupado pelo futuro Parque Olímpico.
"Até agora não recebemos nenhuma notificação da prefeitura. Vai dar confusão", diz Evanildo Ferreira, inquilino de uma oficina mecânica.
"Se meterem o pé na porta, não vão levar. Vão levar é tiro na cara", afirma o morador de um sobrado, que pediu para não ser identificado.
Todos os 33 lotes fazem parte da chamada Vila Autódromo, comunidade que cresceu ao lado do circuito a partir de meados dos anos 70.
Mas passam longe da ideia de favela. Do antigo portão 9 do autódromo até os hangares do aeroporto de Jacarepaguá, faixa de cerca de 400 m, há casas de classe média e algumas de padrão mais alto.
Todas as construções, do barraco mais humilde à residência mais portentosa, terão de ser removidas para a construção do parque, sede de 15 modalidades nos Jogos.
Por ora, máquinas trabalham no terreno do antigo autódromo, em serviços de terraplanagem e implantação de infraestrutura. Em menos de um ano, porém, avançarão sobre as casas: o cronograma das obras prevê a desocupação até fevereiro de 2014.
A Secretaria Municipal de Habitação vem tratando moradores de forma diferente.
Na área mais pobre, as cerca de 900 famílias já foram notificadas e estão sendo cadastradas. Muitas já visitaram as obras do conjunto Minha Casa, Minha Vida, na estrada dos Bandeirantes, também em Jacarepaguá, para onde serão removidas.
Por lá, o sentimento é de conformismo. "Fomos ver a planta. Disseram que entregam em fevereiro, vamos esperar", diz Maria das Chagas Bezerra, 66, há 26 anos moradora da Vila Autódromo.
Para além do portão 9, o cenário é de desinformação. "Ninguém veio aqui. Estou tocando a vida normalmente", diz Marcos Mastropietro.
Há, também, animosidade. A maior parte dos moradores se nega a dar entrevista. E promete brigar, alegando ter certificado de posse dos terrenos por 99 anos, concedidos pelo então governador Leonel Brizola, em 1994.
"Aqueles que têm um casebre mais inferior aceitaram a proposta da prefeitura. Os outros querem uma indenização à altura", explica Altair Guimarães, presidente da Associação de Moradores de Vila Autódromo, ele mesmo já removido outras duas vezes.
A Folha apurou que a prefeitura ainda não contatou os ocupantes dos 33 imóveis porque prepara ações judiciais, via Procuradoria Geral.
Para a prefeitura, os moradores não se encaixam no perfil para remoção ao conjunto habitacional. A Procuradoria contesta a validade dos títulos de posse e tentará retirá-los sem indenização.
No mês passado, a remoção de índios de um casarão no Maracanã, para dar lugar ao Museu Olímpico, terminou em prisões, corre-corre, bombas de gás lacrimogêneo, repercussão internacional.
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