Descalços, meninos indígenas vencem torneio de basquete e são ovacionados no México
Os novos campeões de popularidade do esporte mexicano são oito indígenas que têm entre 9 e 12 anos, já representaram o país em partidas de basquete e jogam descalços.
Eles se tornaram um dos principais assuntos nacionais, exaltados pelo governo estadual, citados pelo presidente, homenageados na Câmara dos Deputados e celebrados nas redes sociais.
Os pequenos índios conquistaram o Festival Internacional de Minibasquete nas cidades de Córdoba e Paraná, na Argentina. Competiram 20 equipes da América Latina, entre 11 e 14 de outubro.
No retorno a Oaxaca, um dos estados mais pobres, no sul do país, nesta quinta-feira, foram recebidos como heróis no aeroporto. Agências de notícias relataram a presença de dezenas de pessoas na festa, entre simpatizantes, jornalistas e políticos.
Durante meia hora, parentes gritaram e cantaram, exibindo balões, além de bandeiras verdes e vermelhas, e cartazes com símbolos do Movimento Unificador de Luta Triqui, o principal apoiador da equipe.
Mario a. Martínez-17.out.2013/Efe | ||
Os "meninos descalços" são recebidos com festa no aeroporto internacional de Oaxaca, no sul do México |
Eles ficaram conhecidos como "meninos descalços", pois jogaram sem sapatos esportivos, exatamente como costumam fazer nas suas pobres comunidades da etnia indígena triqui.
Na mídia e nas redes sociais, fizeram sucesso os vídeos e as fotos de seus jogos e das reverências feitas pelos próprios adversários.
Os mexicanos venceram suas sete partidas e registraram placares arrasadores, como 22 a 6 contra a equipe da Universidad de Córdoba e 40 a 16 ante Regatas de Mendoza.
Foram usados como contraponto em relação aos endinheirados jogadores da seleção de futebol que decepcionaram a torcida e terão que disputar uma repescagem para participarem da Copa do Mundo de 2014.
Salvos da eliminação por causa da vitória dos vizinhos e rivais Estados Unidos, os atletas profissionais foram duramente criticados e associados ao sentimento de vergonha por jornalistas e torcedores.
O time adulto do México também conquistou surpreendentemente a Copa América de basquete, no mês passado, na Venezuela.
JORDAN E DURANT
"Viva o mini (Michael) Jordan triqui", gritou uma jovem no aeroporto internacional de Oaxaca ao ver Tobías e compará-lo ao ex-jogador da NBA.
"Não sabíamos quais equipes íamos enfrentar, porém, sim, sabíamos que íamos ganhar", comentou Melquíades Ramírez, apelidado de "Kevin Durant" em referência ao astro do Oklahoma City Thunder.
"Desde que começou o torneio, tínhamos ansiedade de já jogar e ganhar. Quando ganhamos, todos nos diziam que jogamos muito bem, pediam para ensiná-los, queriam ser do nosso time", afirmou Dylan Ramírez.
Em outras ocasiões, treinadores que levaram times triqui aos Estados Unidos explicaram que, como eles costumam andar descalços desde que nascem e as solas dos seus pés se cobrem de calos, os tênis esportivos limitam a liberdade de movimento dos meninos.
"Descalço, me movo melhor na quadra", atestou Fernando León.
A Câmara de Deputados lhes dedicou um minuto de aplausos.
"As vitórias da equipe triqui da Academia de Basquete Indígena de Oaxaca são um orgulho para os mexicanos", escreveu o presidente Enrique Peña Nieto na sua conta de Twitter.
CONFLITO ARMADO
Os também chamados "Gigantes descalços da Montanha" participarão da Copa do Caribe, em Porto Rico, de 30 de outubro a 5 de novembro, e da Copa Barcelona, em junho de 2014.
Eles formam parte de um projeto de educação e autovalorização por meio do esporte que abrange aproximadamente 2.500 crianças pobres. A iniciativa tenta combater a evasão escolar e o grande número de casamentos de meninas menores de 15 anos.
A população triqui, composta por 25 mil pessoas, se espalha por Oaxaca, Estado do México, Cidade do México e Baixa Califórnia.
Há mais de uma década, algumas das comunidades do sul, a 300 km da capital, viveram um conflito entre, ao menos, três grupos armados, numa disputa pelo controle político local. Morreram mais de 150 pessoas, incluindo idosos, mulheres e crianças.
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