2013 foi um ano de vitórias improváveis, em escala mundial
Este foi o ano da persistência.
Boston e o mundo do esporte absorveram o ataque de abril ao nosso direito de jogar em paz, e avançaram com energia e otimismo.
Nicole Gross, triatleta norte-americana que sofreu sérios ferimentos nas pernas por conta do atentado contra a Maratona de Boston, que causou três mortes e ferimentos em mais de 260 pessoas, retornou à piscina em outubro. Ela voltou às raias de atletismo no mês passado, para assistir à maratona Thunder Road, em Charlotte, Carolina do Norte, com a irmã e o marido, também feridos em Boston.
"Viemos aqui para que o mundo veja que não temos medo de estar de novo na linha de chegada", disse Gross aos atletas participantes da prova. "Uma vez mais, procuraremos a linha de chegada".
Esse mesmo espírito tomou conta do Boston Red Sox, que se recuperou de uma temporada horrenda em 2012 e aproveitou seu novo elenco e a atitude batalhadora que surgiu com a chegada dos novos jogadores para conquistar a vitória na World Series do beisebol, em outubro.
Com o título garantido e as desmazeladas barbas que usaram nos playoffs ainda no rosto, o time marchou pelas ruas de Boston, e os jogadores Jarrod Saltalamacchia e Jonny Gomes levaram o troféu da World Series até a linha de chegada da maratona.
Também foi um ano de recuperações, e ainda que Lance Armstrong, por fim desmascarado de vez como trapaceiro, não tenha ajudado muito os atletas que tiveram grandes retornos, os esportistas do planeta parecem ter acelerado o ritmo, quanto o assunto é encarar deficiências que deveriam ter sido decisivas, e superar a lentidão deixada por paradas que deveriam tê-los restringido.
LeBon James e o Miami Heat estavam em desvantagem por cinco pontos no sexto jogo da final da NBA, em junho, mas ainda assim conseguiram apanhar rebotes ofensivos e fazer cestas de três pontos em número suficiente para derrotar o San Antonio Spurs e forçar um sétimo jogo, que o Heat venceu para garantir o segundo título consecutivo.
Do outro lado do Atlântico, Franck Ribéry e a seleção francesa de futebol estavam em desvantagem e quase fora da Copa do Mundo do ano que vem, depois de perder a primeira partida da repescagem contra a Ucrânia, na casa da adversária, por 2 a 0. Mas Les Bleus reagiram e ganharam a partida de retorno em casa por 3 a 0, para garantir a improvável vaga da equipe na Copa do Brasil e reanimar bastante um país combalido.
Na Champions League, o Borussia Dortmund, que correu sério risco de eliminação nas quartas definais, conseguiu gols de Marco Reus e Felipe Santana nos acréscimos, derrotando o Málaga por três a dois e chegando à final da competição em maio, quando o Bayern de Munique se provou um adversário forte demais para permitir reação.
Mas outros esportes tiveram a história oposta. Na primeira rodada dos playoffs da Copa Stanley do hóquei sobre o gelo, em maio, os Bruins estavam perdendo por 4 a 1 do Toronto Maple Leafs; faltavam apenas 11 minutos no decisivo jogo sete da disputa eliminatória, em Boston. Nenhum time da NHL havia vencido um jogo sete de playoff depois de estar em desvantagem de três gols no período final. Mas os Bruins estabeleceram essa nova marca.
"Qualquer coisa pode acontecer, e foi exatamente isso que aconteceu", disse Milan Lucic, dos Bruins.
Por isso, pareceu justo que, no mesmo ginásio, seis semanas mais tarde, os Chicago Blackhawks trocassem o goleiro por um jogador de linha e marcassem dois gols nos 76 segundos finais, vencendo o Bruins e conquistando o título.
"De repente, parecia que tínhamos um peso enorme nas costas", disse David Krejci, atacante do Boston Bruins. "Era difícil patinar, era difícil pensar; simplesmente não conseguimos vencer".
Forças misteriosas parecidas pareciam estar em ação no mês passado em Auburn, Alabama. Alabama e Auburn, duas potências do futebol americano universitário, estavam empatadas, 28 a 28, quando o chutador Adam Griffith se posicionou para chutar um field goal de 57 jardas, no último segundo da partida.
O chute de Griffith caiu antes do Y, e a bola foi apanhada por Chris Davids, de Auburn, no fundo da end zone de seu time. Em circunstâncias normais, ele teria sido derrubado por um adversário em questão de segundos. Em circunstâncias anormais, ele teria conseguido chegar à metade do campo antes de ser derrubado ou empurrado para fora do campo.
Mas estamos falando de um dia realmente extraordinário. Davids correu pela esquerda, se desviou do tráfego pesado de jogadores e conseguiu por muito pouco se manter dentro de campo, correndo pela lateral, até marcar um touchdown que levou Auburn, e não Alabama, à semifinal da Bowl Championship Series.
Outros grandes retornos de 2013 tiveram apelo mais global, especialmente o de Rafael Nadal ao pináculo do tênis, depois de sete meses de parada que o deixaram fora do Aberto da Austrália, devido a problemas crônicos nos joelhos.
Nadal foi eliminado em seu primeiro torneio após o retorno, derrotado por Horacio Zeballos, 73º no ranking mundial, no torneio de Viña del Mar, no Chile. Mas a vulnerabilidade dele ficou nisso, porque em seguida Nadal venceu 10 torneios, entre os quais seu oitavo Aberto da França e segundo Aberto dos Estados Unidos, por fim se livrando das bandagens elásticas do joelho e derrubando seu novo arquirrival, Novak Djokovic, do primeiro posto do ranking mundial.
Em Nova York, Nadal resistiu mais do que Djokovic em uma brutal final do Open que teve uma jogada com 54 rebatidas e mais suor do que Roger Federer expeliu de seus poros em toda uma carreira.
Em Muirfield, Escócia, Phil Mickelson, golfista do sul da Califórnia que costumava detestar o golpe em estilo links, iniciou a rodada final com cinco tacadas de desvantagem mas exibiu um dos mais espantosos desempenhos na história do British Open, garantindo o título.
Em San Francisco, em setembro, o Emirates Team New Zeland assumiu uma vantagem de oito regatas a uma contra o Oracle Team USA, que estava defendendo seu título na America's Cup.
"Não acabou ainda; está longe de decidido", disse Jimmy Spithill, capitão do Oracle, na entrevista coletiva pós-regata, naquele dia.
Oito vitórias consecutivas mais tarde, e depois de inúmeras revisões de planos de viagem e resmungos neozelandeses, Spithill e o Oracle tinham conquistado a maior virada do ano das viradas.
Os iatistas, como os maratonistas, tiveram de enfrentar perdas, com a morte do iatista britânico Andrew Simpson, ganhador do ouro na Olimpíada de Londres, em um acidente de treinamento na baía de San Francisco, em maio.
Sua morte causou choque aos atletas sobreviventes e forçou grandes mudanças na regata, que estava sendo disputada com novos catamarãs de alta velocidade.
Mas os marinheiros, com o povo de Boston e tantos outros seres humanos, são um grupo combativo, e ainda que as más notícias não respeitem fronteiras, muitas notícias excelentes circularam amplamente em 2013.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Sergey Dolzhenko 15.jan.2013/Efe | ||
Franck Ribery (azul) na partida da seleção da França contra a Ucrânia no jogo de ida da repescagem para a Copa do Mundo |
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