Técnico do Santos sub-20 promoveu 1º show de Chorão e já treinou Guardiola
À primeira vista, Pepinho Macia, 48, não lembra tanto o pai Pepe, 78, ex-ponta esquerda do Santos da geração Pelé, bicampeão do mundo pela seleção brasileira e vitorioso técnico de futebol.
Pepinho tem cabelo, algo que o pai começou a perder antes até de se aposentar como jogador, em 1969, é magro e conserva um cavanhaque. Tem diversas tatuagens, uma, nos dedos da mão direita, forma a palavra Pepe. "É uma homenagem simples", diz.
Mas basta iniciar a conversa com ele para perceber as semelhanças.
Ambos nasceram em Santos e tem o time alvinegro como paixão.
Pepinho é calmo como Pepe, adora contar boas histórias, falar de futebol e tem memória privilegiada. Herdou do pai o gosto pelo esporte, embora não tenha se profissionalizado como jogador. Foi como técnico que prosperou.
Jorge Araújo - 23.jan.2014/Folhapress | ||
O técnico Pepinho Macia orienta o meia Lucas Otávio durante treino do Santos |
Desde 2009, trabalha nas categorias de base do Santos. Foi assistente de Claudinei Oliveira, hoje no Goiás, nos títulos dos Paulistas sub-15 (2009), sub-17 (2010) e sub-20 (2012), além da Copa São Paulo (2013).
Em agosto, virou técnico do sub-20 e foi campeão da Copa do Brasil da categoria, em novembro. Neste sábado, irá disputar a final da Copa São Paulo contra o Corinthians, no Pacaembu, em busca de uma nova taça.
O sucesso recente tornou Pepinho mais conhecido perante a torcida. Mas poucos sabem que ele tentou virar profissional nos anos 1980, foi assistente técnico de Pepe e treinou Pep Guardiola, hoje comandante do Bayern de Munique, promoveu o primeiro show da carreira do cantor Chorão, da banda Charlie Brown Jr, e é fissurado em rock.
"Já tive loja de discos em Santos, de 1984 a 1996, programa de rádio e de televisão sobre rock, promovi shows e excursões para shows em São Paulo. Hoje, por causa do futebol, fica difícil ter a mesma dedicação", disse Pepinho.
Mas tem até hoje o hábito de se reunir com os amigos em uma loja de discos em Santos para bater papo. O assunto sempre é rock. "Ele fala tanto de música e de bandas que às vezes é até chato", brinca um dos amigos de Pepinho.
O treinador recebeu a reportagem da Folha no hotel Excelsior, em São Paulo, após o penúltimo treino do Santos para a final da Copa São Paulo de futebol júnior, e falou sobre toda sua trajetória no futebol e sua paixão sobre rock.
FUTEBOL
Pepinho tinha quatro anos quando o pai decidiu abandonar o futebol. Quase não recorda o período em que Pepe vestia a camisa do Santos.
As recordações que conserva são da fase em que Pepe virou treinador. "Acompanhei meu pai em todos os times. Nos anos 1980, viajei com ele ao Qatar, ao Peru, ao Japão. Ele foi minha referência".
Antes, o treinador santista até tentou se aventurar como jogador, mas não prosseguiu a carreira e diz que isso não lhe causou nenhuma frustração.
"Joguei por cinco anos na base do Santos. Também joguei na Portuguesa Santista. Tinha condição razoável. Na época, as pessoas achavam que eu tinha de ser ponta esquerda como meu pai. Isso me prejudicou. Eu não era um jogador veloz. Tinha certa qualidade, mas não podia ser atacante."
"Passei a jogar como zagueiro e lateral esquerdo, e até me destaquei. Disputei alguns Paulistas de base pelo Santos e pela Portuguesa Santista. Em 1983, meu pai para o Qatar e aí fui morar com ele. Já tinha 18 anos e parei de jogar definitivamente. Hoje, só jogo uma bolinha com os amigos" completa.
A trajetória do pai como treinador acabou marcando a vida de Pepinho, que optou por seguir o mesmo caminho dentro do futebol.
"Fui treinador amador em Santos, de futebol de várzea. Depois fiz vários cursos, um no Instituto Vanderlei Luxemburgo. Sempre acompanhei meu pai e a primeira oportunidade surgiu em 1998", diz Pepinho.
Jorge Araújo -23.jan.2014/Folhapress | ||
Pepinho Macia com a tatuagem em homenagem ao pai Pepe |
Começou como técnico do sub-17 do Independente de Limeira e auxiliar técnico do profissional. Depois passou pela Ferroviária, Lemense, Velo Clube e São Vicente, além de Bragantino e Paulista, como auxiliar de Marcelo Veiga.
A experiência em vários clubes ajudou Pepinho a compreender a realidade do futebol brasileiro e a transmitir isso aos jogadores do Santos.
"Digo a eles que só 20% dos jogadores conseguem a independência financeira, enquanto o restante batalha por 10, 15 anos e não tem vida fácil. Em uma equipe que trabalhei, tive de tirar o par de meia do meu pé para dar para um menino jogar. Em outra, os jogadores não tinha mistura na refeição. Era arroz e ovo. Eu fui comprar carne com meu dinheiro", continua.
"O Santos tem um padrão muito bom para a base, coisa rara até para equipes profissionais. E os meninos que começam aqui não têm noção de como é o outro lado da profissão. Por isso, falo para eles colocarem os pés no chão."
Ele também foi auxiliar de Pepe no Guarani, na Portuguesa Santista e no Al-Ahly, do Qatar. Neste último, entre 2004/05, teve a oportunidade de treinar Pep Guadiola no final da carreira e sem ambição de virar técnico.
"Ele tinha uma qualidade espetacular. Uma condição de ver o jogo, passar a bola, que vi poucas vezes. Ele aprendeu muito conosco e adorava ouvir as histórias do meu pai. O curioso é que ele não tinha pretensão de virar técnico. Um dia perguntei isso a ele, e ouvi 'Não sou louco, não tenho saco para isso e prefiro jogar golfe'. Incrível", conta.
Hoje, prestes a disputar sua segunda final como treinador da base do Santos, Pepinho quer ser campeão, mas desconversa sobre assumir o profissional.
"Não gosto de fixar nada na cabeça. Acho que é um caminho natural. O que vir pela frente eu encaro. Já me sinto realizado. Estou na minha cidade, no clube que amo. Se um dia surgir a oportunidade, vamos ver", explicou.
Divulgação/Santos FC | ||
Pepinho durante jogo do Santos na Copa São Paulo de juniores |
MÚSICA
Já a paixão pelo rock é tão forte ou até maior do que a que nutre pelo futebol.
Também é uma das diferenças que Pepinho tem em relação a pai, embora ele admita que Pepe teve influência nessa história.
"Ele [Pepe] sempre teve um gosto musical mais amplo e mais tranquilo. No final dos anos 70, ele tinha uma coleção de discos de estilos diversos. Eu me interessei por essa coleção e comecei escutando Beatles e Elvis Presley. Gostei e aí começou tudo. Os amigos me ajudaram apresentando outros conjuntos. Com 11 anos, comprei um compacto do Led Zeppelin. Depois passei a ouvir Rolling Stones", conta Pepinho.
Entre suas bandas favoritas, estão AC/DC, Manowar, Black Sabbath, Judas Priest e UFO. Mas ele lista conjuntos nacionais como Angra, Sepultura, Ratos de Porão, entre outros, também como parte de seus grupos preferidos.
Apesar de todo o fanatismo, Pepinho nunca tentou ser músico ou ter uma banda. "Sou cantor de chuveiro", diz. Mas já ajudou muitos que tiveram essa ambição. Um deles foi Alexandre Magno Abrão, o Chorão.
No anos 80, Pepinho ajudou a promover um show do cantor, cuja banda se chamava What's Up. "Era muito bom, o grupo dele cantava em inglês. Acompanhei toda a ascensão dele, até virar Charlie Brown Jr. e ficar famoso".
O amor pelo rock espanta até nos jogadores do sub-20 do Santos, que preferem ouvir funk, sertanejo e pagode.
"Eles acham que eu só escuto barulho, mas aturar o gosto deles no ônibus é difícil [risos]. Às vezes, eles me provocam. Passam perto de mim, aumentam o volume e falam 'essa é para você professor', e geralmente é um funk, um sertanejo", diz, ao risos.
Para embalar o time na final da Copa São Paulo, Pepinho tem até uma música na cabeça: Fighting the World, do Manowar.
O refrão é: "Fight, fight, fight / Fighting the World every single day / Fighting the World for the right to play / Heavy metal in by brain".
Colaborou THIAGO RAHAL MAURO, de São Paulo
Jorge Araújo -23.jan.2014/Folhapress | ||
Pepinho conduz treino do Santos antes da final da Copa São Paulo |
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