Zico diz que ofensas racistas estão 'muito fortes' e conta casos na Rússia
Zico, 61, não é negro. Mas isso não significa que o ídolo do Flamengo e atualmente treinador esteja alheio aos casos de racismo no futebol.
O ex-camisa 10 do clube carioca e da seleção brasileira afirmou à Folha que as ofensas raciais nos estádios são hoje "muito fortes, diretas" e lembrou de episódios que viveu enquanto dirigia o CSKA Moscou.
O brasileiro trabalhou na Rússia em 2009 e disse ter presenciado casos de discriminação racial.
"Teve um jogador do meu time [o nigeriano Maazou] que se desesperou quando começaram a fazer sons de macaco. Ele ameaçou sair de campo e ficou brigando com a torcida enquanto o jogo rolava. Eu tive que substituí-lo no intervalo porque ele não tinha condições de continuar. Depois, enviei uma carta para a Uefa e a Federação Russa. Deram uma multa e acabou ficando por isso mesmo", lamentou.
Zico também lembrou dos relatos que ouvia de jogadores brasileiros que atuavam no futsal russo. "Às vezes, eu dava ingressos para jogos do CSKA a eles. Só que eles diziam que precisavam de mais entradas porque não dava para um negro andar sozinho de metrô em Moscou."
Sobre as declarações de Pelé, que afirmou que o goleiro Aranha se precipitou "em querer brigar com a torcida do Grêmio" depois de ter sido chamado de macaco, o ex-meia afirmou que nos tempos do Rei do Futebol "essas coisas [as ofensas raciais] não eram tão valorizadas".
"No nosso tempo, os jogadores chamavam de macaco, preto, crioulo, a gente [branco], de viado. Mas era para desestabilizar. No tempo do Pelé, essas coisas não eram tão valorizadas. Hoje, as ofensas são muito mais forte, diretas. Não são mais gozação."
Juca Varella - 6.ago.2014/Folhapress | ||
Zico participa de um evento em São Paulo |
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade