Homenageado por escola de samba, Joel diz que é querido por 'papo reto'
Pedro Martins/AGIF/Folhapress | ||
O técnico Joel Santana (ao fundo) comanda treino no Vasco, último clube que treinou em 2014 |
Conversar com Joel Santana, 66, pode ser uma experiência singular.
Na primeira ligação, apressado, o treinador pede para o repórter retornar mais tarde.
Na segunda ligação, horas depois, atende alguém que se identifica como Mohammad. Após ruídos e frases que mais parecem imitações caricaturescas de um árabe ("alá, alá", "ramna, ramna", "mim não conhece Joel"), a ligação cai.
Os telefonemas seguintes não são atendidos.
Finalmente, Joel atende.
Homenageado com um carro alegórico pela escola de samba Arame de Ricardo, da Série B - terceira divisão em ordem de importância - do carnaval carioca, que terá as brincadeiras infantis como mote de seu enredo, ele se apressa em dizer que sua presença ainda não está confirmada.
"Eu tenho um amigo que é da escola lá de Ricardo de Alburquerque [bairro da zona norte do Rio de Janeiro], e ele veio me falar que o enredo chama 'Tá de brincadeira?', e a comunidade quis me homenagear com isso. Ainda temos um tempo até o carnaval, ainda preciso ver que dia eles vão desfilar, onde vai ser, que horas e o que eu vou ter que fazer. Ainda não é certeza que vou", ressalta.
Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia | ||
Joel Santana em jogo do Bahia, clube que treinou em 2013 |
"Tá de brincadeira" é uma expressão que sempre foi bastante usada por Joel ao longo de sua carreira. Recentemente, em propagandas na televisão, o treinador solta o bordão "Tá de brincation with me, cara?", incorporando brincadeiras com seu nível de domínio do inglês.
Rapidamente, Joel corrige o que disse no começo com simpatia.
"Mas devo ir, né? Quero realmente ir. Convite a gente nunca nega! É uma escola de segunda, mas o samba é de primeira! E a bateria da Beija-Flor... tá muito bonita, muito bonita [a bateria da Arame de Ricardo conta com numerosos integrantes da Beija Flor]. E o samba enredo é bom, fala de todas essas brincadeiras, uni-duni-tê, salamê-minguê", conta.
"E comigo desfilando a escola vai subir!".
De supetão, o treinador já emenda outra história.
"Você não sabe de nada! Eu já desfilei aí numa escola em São Paulo, há alguns anos [em 2013]. Essa escola estava homenageando [o sambista] João Nogueira, e eu saí com alguns amigos. Nós não ganhamos o desfile porque a escola atrasou 30 segundos na hora de sair da pista, é mole? 30 segundos! Escola linda, maravilhosa", empolga-se.
"Foi a Águia de Ouro, não foi, Joel?", pergunta a reportagem da Folha.
"Não lembro o nome da escola, rapaz. Tem um amigo meu que tá chegando onde eu estou que vai poder te falar isso", responde.
Martin Meissner/AP | ||
Joel Santana em coletiva de imprensa quando era técnico da seleção da África do Sul |
"Você lembra se era azul e branca [cores da Águia de Ouro]?", insiste a reportagem.
"Se for azul e branca é igual à nossa daqui, que também é azul e branca!", vibra o treinador, já carinhosamente chamando de "sua" a escola que lhe prestará homenagem.
Joel é exceção entre os treinadores, de modo geral pouco queridos e hostilizados pelos torcedores. Seu carisma lhe rendeu o apelido de "papai Joel", além de dividendos que recebeu após virar garoto-propaganda de produtos capilares.
"Obrigado [após ouvir que é querido pelas pessoas]. Acho que eu sou querido porque eu falo com você, com a imprensa, com o público de uma maneira geral. Eu sou isso que você tá vendo: batendo o maior papo, sem frescura, sem vaidade, sem conversa fiada. No Rio, meu papo é chamado de 'papo reto', papo direto".
Único campeão estadual com os quatro grandes clubes do Rio, Joel, hoje sem clube, mostra tranquilidade ao falar do que espera para 2015.
"Deixa passar o carnaval. Já tive muita pressa nessa vida, hoje eu não tenho mais. As coisas vão acontecer", explica, pausadamente, com seu timbre inconfundível.
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