Tatuados, Guerrero e Dudu querem brilhar em clássico cheio de tensão
Quando o Palmeiras deixou o Corinthians para trás e fechou a contratação de Dudu, não houve polêmica. Só surpresa. O "chapéu" levado não causou chiadeira no Parque São Jorge.
Mas a confusão quanto a presença ou não da torcida corintiana no estádio do rival, essa sim acirrou os ânimos. O presidente Mario Gobbi acusou o colega Paulo Nobre de dar um "passa-moleque" no Corinthians.
Após pressão e ameaça de não entrar em campo, o dirigente do clube alvinegro conseguiu seus 1.800 ingressos.
Alheio ao clima quente do clássico deste domingo (8), às 17h, o primeiro no novo estádio do Palmeiras, Dudu não lamenta ter perdido a chance de atuar ao lado de Guerrero e vai em busca do primeiro gol pelo clube alviverde.
Já o corintiano, tomado por "gana", busca apagar a imagem da expulsão contra o Once Caldas (COL), pela Libertadores.
DUDU QUER NOVA TATUAGEM E DESPISTA SOBRE 'CHAPÉU'
Se for campeão pelo Palmeiras, Dudu pensa em fazer uma tatuagem para homenagear a conquista.
"Só vai ser difícil achar um lugar", brinca o jogador, que não sabe quantos desenhos tem espalhados pelo corpo. "Ah, sei que são mais de 15", diz.
O atacante, que se tornou xodó da torcida palmeirense antes mesmo de ser apresentado, por ter escolhido jogar pelo clube, em vez dos dois arquirrivais, não busca uma imagem com significado quando vai se tatuar.
"Acho os desenhos bonitos, vou e faço", diz, entre risos.
Há duas exceções: no braço esquerdo, está o rosto do filho Kauê, 4. Nas costas, o nome de Pedro, 3, seu caçula.
O jogador, que não conheceu o próprio pai, faz questão de escancarar seu amor pelos filhos.
"O homem que diziam que era meu pai morreu há uns anos. Mas eu não o conhecia", conta Dudu, criado pela avó Maria, porque a mãe Valéria, costureira, tinha que trabalhar para cuidar dos cinco filhos -Dudu é o mais novo.
Dudu estreou pelo Palmeiras na última quinta (5). Apesar da derrota, por 1 a 0, para a Ponte Preta, foi um alívio.
"Aos pouco, vou pegando ritmo. Mas foi bom para já ir me acostumando", disse à Folha.
O atacante estava preocupado com a possibilidade de debutar justamente contra o Corinthians, de cujo clube esteve muito perto de fazer parte, antes de assinar com o Palmeiras.
Dudu chegou, inclusive, a dizer que preferia jogar pelo Corinthians, em vez do São Paulo, quando os rivais disputavam, palmo a palmo, a sua contratação.
"Naquele momento, analisando os jogadores do São Paulo, achei que teria mais chances de jogar se fosse para o Corinthians", disse. "E o Palmeiras ainda nem tinha conversado comigo", faz questão de frisar.
Mas esse não foi o único motivo. Dudu tem uma relação de extrema lealdade com Bruno Paiva, seu empresário. E o São Paulo tentou contratá-lo falando diretamente com o Dínamo de Kiev (UCR), time que detinha seus direitos econômicos.
"Achei errado isso. O São Paulo sabia que eu tinha empresário, tinha que ter negociado com ele. Falo com o Bruno diariamente, ele é meu amigo", afirma.
A certeza de que jogaria em um time da capital paulista era tanta, que Dudu já tinha até tomado providências para matricular os filhos em uma escola do bairro de Perdizes, nos arredores da Academia de Futebol, centro de treinamentos (CT) do Palmeiras. Jogar no clube alviverde, no entanto, acabou sendo uma surpresa.
Mais importante que tudo, porém, é o fato de não ser na Ucrânia.
"Lá eu aprendi um pouco de obediência tática, mas não tenho nenhuma saudade. Faz muito frio e tudo é muito sério. Até a roda de bobinho antes do treino", conta.
Sério também pareceu, à primeira olhada, o técnico Felipão, ex-seleção brasileira, que o comandou no Grêmio, em 2014.
"Quando disseram que era ele que ia dirigir o time, fiquei com medo. Mas, no fim, tanto ele quanto o [auxiliar Flávio] Murtosa são gente muito boa, tranquilos", afirma, sobre o treinador que insistia para que ele entrasse mais na área, para chutar a gol.
"Às vezes, o Felipão falava da Copa do Mundo. Reclamava que só ele e o Fred ficaram com a culpa", conta.
Fã da vida simples, o goiano camisa 7 do Palmeiras ainda se espanta com o tamanho da cidade de São Paulo. Na capital, além do CT do Palmeiras, conheceu, com a esposa Malu, um cinema, um shopping center, pizzarias e o Jardim Zoológico.
"Tenho quatro anos aqui ainda. Vai dar tempo de conhecer tudo", espera o jogador.
E se fizer gol contra o Corinthians, vai mesmo fazer o gesto de tirar o chapéu, conforme prometeu, em alusão ao fato de o Palmeiras ter "dado um chapéu" no rival, como se diz no mundo do futebol, na briga por sua contratação?
"Ah, vamos ver, né?", diz, entre risos, sem confirmar, tampouco negar, tal possibilidade.
Julia Chequer/Folhapress | ||
Dudu na partida Palmeiras e Ponte Preta, pelo Campeonato Paulista |
COM 'RAIVA, GUERRERO BUSCA A REDENÇÃO NO CLÁSSICO HOJE
Guerrero queria enfrentar o Palmeiras de qualquer jeito, mesmo que não tivesse sido expulso na última quarta (4), contra o Once Caldas (COL) pela Libertadores.
O cartão vermelho, que recebeu ainda no primeiro tempo, só fez aumentar sua vontade. Contra o Palmeiras, ele quer pagar a dívida que acredita ter com os colegas.
"Estou com raiva. Vou levar essa gana para o clássico. Quero fazer pelos meus companheiros o que eles fizeram por mim contra o Once Caldas", disse à Folha.
Mesmo com sua expulsão, o Corinthians venceu por 4 a 0 e ficou perto da classificação para a fase de grupos.
Guerrero não esperava que a rivalidade do clássico ganhasse tamanho peso nos bastidores nos últimos dias.
O Palmeiras ser favorável a torcida única no clássico irritou muito os corintianos.
"Não quero estragar a festa deles por ser a primeira vez que nos enfrentam em um novo estádio. Mas ganhar vai ter um valor especial para o nosso torcedor", completou.
Guerrero passou os últimos dias inconformado com a expulsão. Jura ter sido injustiçado e que o zagueiro colombiano Pérez simulou a falta. O peruano esticou o braço e acertou o rosto do adversário.
O atacante vai buscar a redenção diante de 1.800 corintianos que compraram os ingressos de visitantes para irem ao estádio do Palmeiras.
"É um dos clássicos de maior rivalidade de que já participei. Vai ser bonito porque é o primeiro confronto na nova arena deles", afirmou.
No vestiário do Itaquerão, enquanto o Corinthians goleava o time colombiano, o centroavante peruano ouvia a partida pelo rádio.
"Eles [os outros jogadores] correram por mim. Domingo será o dia de dar minha retribuição a eles com gols."
Rubens Cavallari/Folhapress | ||
Guerrero durante a partida entre Corinthians e Once Caldas |
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade