'Nunca vi isso na minha vida', diz vizinho do novo estádio do Palmeiras
Ernesto Rodrigues/Folhapress | ||
Cezário Raimundo, que passou mal pelo efeito das bombas |
Cezário Raimundo da Silva, 55, não conseguia respirar. Desceu o lance de escadas de seu quarto até a saída do sobrado onde vive, correu alguns metros para a esquerda e subiu em disparada a rua Diana, travessa da rua Turiassu.
No domingo (8), Cézar, como é conhecido no bairro, viu o que considera o maior confronto entre policiais e torcedores nos 30 anos em que trabalha como zelador da Saneterra Engenharia Civil, empresa que fica em frente ao estádio do Palmeiras.
"Não conseguia respirar por causa das bombas lançadas [pelos policiais]. Precisei correr quase dois quarteirões para cima e me esconder em um prédio novo. Nunca vi isso na minha vida", disse Cézar.
Na porta da casa onde fica a sede da construtora em que trabalha e mora, Cézar mostrou marcas de uma bomba arremessada.
"Em dois anos, eu me aposento e saio de São Paulo", diz o zelador, nascido em Natal (RN).
Não foi só ele que se queixou das bombas químicas lançadas pela polícia contra palmeirenses antes do jogo.
"Crianças que vivem no prédio passaram mal, o gás entrou nos apartamentos", disse Irisvaldo Oliveira Souza, 44, que trabalha num prédio quase em frente ao portão A da arena.
Em nota oficial divulgada nesta segunda (dia 9), a Secretaria de Segurança Pública defendeu a atuação da Polícia Militar, considerando-a "absolutamente necessária em virtude das agressões e atos de vandalismo praticados por torcedores". E conclui: "Eventuais denúncias de desvio de conduta serão apuradas com o máximo rigor".
Segundo ele, moradores preparam um abaixo-assinado para enviar à Prefeitura de São Paulo. Querem a proibição de clássicos no novo estádio.
"Há também a locomoção. Fecham as ruas, ninguém entra e sai. Se alguém passar mal, morre", disse Maria Antonieta de Lima e Silva, presidente da associação de bairro local, a Amigos da Vila Pompeia.
No dia do jogo, diversos bares ficam abertos nas ruas Turiassu e Caraibas.
Funcionários relataram terror na hora da confusão e que as portas precisaram ficar fechadas. Só abriam quando viam que crianças e mulheres precisam de abrigo. Nenhum deles aceitou dar o nome ou ser fotografado porque temem retaliação de membros de torcidas organizadas.
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