Saiba por que o Qatar não vai ter a Copa do Mundo como foi no Brasil
Não vai ter Copa no Qatar, em 2022, ao menos da maneira que o Brasil presenciou em 2014.
Apesar de ainda faltarem sete anos para o primeiro Mundial de futebol organizado em um país árabe, já é possível vislumbrar um campeonato bem diferente do realizado no ano passado.
Dentro dos novíssimos estádios, pode se esperar muito luxo. Fora, porém, não haverá nada parecido à Vila Madalena nem a Copacabana para os torcedores. Mesmo sendo uma das mais liberais cidades do mundo árabe, a festa em Doha também não será regada a bebidas alcoólicas nem às quentes paqueras em público.
Segundo à Folha apurou, para diminuir o conflito cultural dos estrangeiros com as orientações do islamismo no país, o governo deve até dar férias e pedir para que os árabes deixem o pequeno emirado no Golfo Pérsico no período da Copa do Mundo.
Outro ponto estudado pelo governo do país-sede do Mundial de 2022 é a diminuição de 12 para oito estádios. Hoje, dois estão sendo totalmente refeitos (Al-Rayyan, demolido e ainda sem projeto concluído, e Khalifa, que vai ser usado no Mundial de atletismo de 2019). Outros três já estão com projetos aprovados (Al Wakrah, Al Khor e o da Fundação Qatar).
Assim, a capital Doha, que atualmente é um grande canteiro de obras demarcada por guindastes, deve ter cinco arenas na Copa. Em alguma delas, uma repetição de 2014 pode acontecer. A seleção do país sede ser eliminada com goleada. Em janeiro, o Qatar teve o pior desempenho da história na Copa da Ásia, caindo na primeira fase após três derrotas.
Ou seja, se não fizerem como a seleção masculina de handebol, que naturalizou atletas e foi vice-campeã Mundial, o Qatar pode repetir o Brasil, sim, mas apenas no 7 a 1.
Ostentação
O Comitê Supremo de Entrega e Legado não está preocupado se a Copa vai ser em junho e julho, no verão com temperaturas de até 50°C, ou no inverno, entre novembro e fevereiro, com clima ameno, de 13°C a 28°C. Afinal, os novos estádios serão todos climatizados (entre 26°C e 28°C) e até os arredores devem contar com ar-condicionado para a torcida que virá dos hotéis e shoppings centers. Para chegar aos jogos, o torcedor vai usar metrô. Hoje, não há um quilômetro sequer, só grandes crateras escavadas em Doha e em regiões desérticas. Em 2022, projeta-se cerca de 200 quilômetros (mais que o dobro de SP) em quatro linhas e 100 estações. Apenas este gasto seria em torno de R$ 88 bilhões. Ainda há o custo para se construir uma cidade inteira para a festa de abertura e encerramento da Copa: R$ 120 bilhões. Esse é o valor de Lusail, cidade planejada a 15 km do centro de Doha, onde hoje há um suntuoso ginásio, um circuito onde acontece a MotoGP e um enorme centro de tiro esportivo.
Copacabana
Corniche em 2022 deve ser a Copacabana de 2014. Com quase metade dos menos de 2 milhões de habitantes vivendo na capital e cinco estádios para a Copa, o calçadão na baía de Doha tende a ser o palco do desfile de torcidas. Além de ser polo de hotéis, a região serve como parque público durante o dia e brilha em luzes vindas dos modernos prédios à noite. Ali, porém, não se pode andar sem camisa, nadar, pescar, fazer churrasco ou passear de bicicleta. O local já recebe muitos estrangeiros, pois, no Qatar, eles são maioria. Estima-se que 10% dos moradores tenham nascido no país. Assim, é comum o taxista ser da Eritreia, a recepcionista das Filipinas e o garçom do Nepal.
Vila Madalena
Não vai ter a Vila Madalena do Qatar. A venda de bebidas alcoólicas em locais públicos é proibida, mas encontra-se cerveja em alguns hotéis de redes internacionais. O preço varia de R$ 30 a R$ 40 o copo (500ml). Vinhos são servidos em restaurantes como o do premiado chef britânico Gordon Ramsay, dentro de um luxuoso hotel em Doha. Lá, o menu degustação custa cerca de R$ 420 por pessoa. Com a harmonização de vinhos, sobe para R$ 740. E por mais que a Fifa tenha autorização para vender a cerveja que patrocina a Copa dentro dos estádios, o país não deve permitir que torcedores circulem com ela nas ruas. A moda no Qatar é aproveitar o fim do dia tomando um coquetel de frutas, um chá ou a shisha –cachimbo árabe aromático conhecido do Brasil por narguilé. No Mundial de handebol, em janeiro, a organização criou uma "Fan Fest" com shows, jogos, comidas e bebidas alcoólicas. Para entrar, era preciso apresentar o passaporte. Lá, a Folha presenciou duas mulheres muçulmanas serem barradas. Imagina na Copa!
Religião
Se no Brasil futebol é religião, no Qatar o islamismo o é. Para o Mundial de handebol, por exemplo, foram construídos três novos ginásios, com capacidade de 5 mil a 15 mil espectadores. E todos eles têm locais reservados para as cinco orações diárias, separados para homens e mulheres. Se não estiverem nestas salas, que também existem em locais como shoppings, ou em mesquitas, a oração é feita em qualquer outro lugar, no mesmo horário, voltada para Meca.
Pouca roupa
Riquíssimo em gás e petróleo, o Qatar tem sua capital de cerca de 800 mil habitantes feita para carros –grandes e luxuosos. Quase não se vê pessoas nas calçadas e o transporte público é limitado. No turístico Souq Waqif (mercado de rua) há pedestres estrangeiros e árabes –estes em túnicas brancas, com uma ou mais mulheres vestindo pretas burcas (cobre todo o corpo), hijabs (rosto aparente) ou niqabs (vê-se os olhos). Há campanha para o turista respeitar a lei islâmica e não vestir roupas curtas ou decotadas. Não é permitido beijar em público.
O repórter MARCEL MERGUIZO viajou a convite da organização do Mundial masculino de Handebol
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