Surpresa na seleção, Casemiro diz que chegou o momento da geração Neymar
Quando anunciou a lista de convocados para a Copa América, em 5 de maio, Dunga surpreendeu ao não chamar Oscar (depois veio se saber que estava machucado), mas também o nome do volante Casemiro, 23, foi tratado como surpresa.
Casemiro tinha tido chance nos amistosos de novembro, contra Turquia e Áustria, como opção a Luiz Gustavo como primeiro volante. Jogou 26 minutos apenas e parecia fadado a perder a vaga para Souza, do São Paulo.
Parecia. Porque Souza faz uma péssima temporada no clube paulista, e Casemiro teve um ótimo fim de temporada europeia no Porto, a ponto de o clube exercer a preferência de compra e ficar em definitivo com o atleta revelado pelo São Paulo e que foi para a Europa jogar no Real Madrid.
Com altos (foi da seleção do Brasileiro de 2011) e baixos (criticado pela irregularidade dentro do São Paulo), Casemiro foi emprestado em janeiro de 2013 ao Real Madrid, o que surpreendeu já que não vivia seu melhor momento da carreira. Caiu nas graças de José Mourinho por suas atuações no time B do Real, foi contratado em definitivo em meados de 2013 e um ano depois emprestado ao Porto.
Nesta entrevista à Folha, Casemiro conta que prefere atuar como primeiro volante no momento, mas que poderia ajudar mais adiantado. Com Luiz Gustavo cortado por lesão –CBF ainda não definiu o substituto–, Casemiro entra na briga por uma vaga de titular. Também poderia brigar com Elias e Fernandinho para ser o segundo volante da seleção.
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Folha: Você teve inúmeras passagens por seleções de base, com títulos importantes. Porque acha que apenas agora, com essa convocação para a Copa América, está recebendo uma grande oportunidade na seleção principal?
Casemiro: Vejo como um processo natural de amadurecimento e crescimento. Outros jogadores da minha geração, como o Danilo e o Philippe Coutinho, por exemplo, também estão recebendo essa grande oportunidade só agora. Tenho apenas 23 anos e acho que essa oportunidade chega na hora certa, estou muito contente por fazer parte desse grupo. Defender a camisa da seleção brasileira, em uma competição tão importante como a Copa América, é motivo de muito orgulho.
Te surpreendeu a convocação, já que havia sido convocado apenas para os amistosos na Turquia e Áustria? Ficou sabendo após a lista ser anunciada ou sabia antes? Onde estava quando soube?
Eu estava na expectativa, mas não acompanhei o momento do anúncio. Eu estava almoçando com a minha esposa. Só fiquei aguardando as mensagens e ligações no celular, que eu sabia que isso aconteceria caso eu fosse convocado. E não deu outra. Diversos amigos e familiares começaram a me ligar e mandar mensagens. Foi muito legal, uma felicidade grande. Trabalhei e me dediquei muito para isso. Dias antes da convocação, comentei com amigos que eu estava na expectativa de ser convocado. Graças a Deus, deu tudo certo.
Você disputava a convocação com Rômulo, Souza (do São Paulo) e Ramires, experiente por já ter jogado Copas. Onde acha que ganhou a confiança de Dunga para ser chamado?
Isso só o Dunga mesmo pode dizer. Mas acho que fiz bem a minha parte quando fui convocado no ano passado, me dediquei ao máximo em cada minuto de treinamento e nos minutos que tive em campo. E minha temporada pelo Porto foi muito boa. Isso, com certeza, também ajudou. Mas agora é uma nova etapa, um novo passo que eu tenho que dar. Vou trabalhar muito para não sair mais do grupo da seleção e fazer o possível para ajudar o Brasil a ter uma grande campanha na Copa América.
Como pode jogar no meio de campo? Acha que disputa posição com Elias como segundo volante, ou pode atuar também mais recuado como Luiz Gustavo e Fernandinho?
Estou à disposição do Dunga para atuar da maneira que ele achar melhor. Desde que cheguei à Europa, tenho atuado como um volante mais marcador, jogando à frente dos zagueiros. Mas também já joguei diversas vezes mais avançado, saindo mais para o jogo. Tenho facilidade para fazer as duas funções. Hoje em dia não existe mais aquela coisa de volante que só sabe marcar ou só atacar.
Acha que a seleção brasileira pode sentir pressão por ter fracassado na Copa do Mundo de 2014? Acha que o 7 a 1 ainda pode abalar os jogadores que estavam no grupo no ano passado?
Jogador que chega à seleção brasileira está acostumado a sofrer diversos tipos de pressão. Temos de nos concentrar em fazer o nosso melhor no dia a dia, nos treinos, nos jogos. O caminho é a gente trabalhar e se reparar. Se cada um fizer a sua parte direitinho, a chance de conseguirmos triunfar é muito maior.
Como foi a experiência com Dunga, que tem fama de ser um treinador bastante exigente?
O Dunga tem se mostrado um excelente profissional. Os resultados estão aí pra todo mundo ver. A outra passagem dele também já havia sido muito boa. Ganhou Copa América, Copa das Confederações e se classificou sem sustos pra Copa do Mundo. Agora, estamos em uma nova caminhada. Gostei muito das minhas primeiras experiências com ele. Deu para sentir que ele é um cara muito estudioso e sabe passar com clareza o que devemos fazer em campo. Ele é exigente, mas também sabe conversar, dialogar.
Chateou você quando ouviu algumas brincadeiras quando você foi contratado pelo Real Madrid? Acha que foi desvalorizado no São Paulo?
Sinceramente, não lembro de ter visto nenhuma brincadeira. Não sou de ficar procurando essas coisas. Do São Paulo, guardo ótimas lembranças. Passei dez anos da minha vida no clube, cresci como pessoa e como profissional, conquistei títulos... Então, é essa recordação que guardo do São Paulo. Ter passado por alguns altos e baixos no clube foi normal, isso faz parte da carreira de qualquer jogador, ainda mais eu que saí de lá bem jovem.
Acha que ter estreado tão novo, aos 18 anos, prejudicou ou ajudou na carreira?
Ajudou, com certeza. Eu pude amadurecer e evoluir de forma mais rápida. Hoje tenho 23 anos ainda e já me sinto preparado para encarar qualquer coisa no futebol. Já passei por São Paulo, Real Madrid, Porto, seleção brasileira... Foram muitas experiências positivas. Mas sei que tenho muito a apreender e a crescer ainda. Estou com a cabeça tranquila, ciente de que preciso continuar trabalhando e batalhando a cada dia.
Como foi trabalhar com José Mourinho? Dizem que ele adorava você.
O Mourinho é um cara que dispensa comentários. Já ganhou todos os principais títulos na Europa e está entre os melhores técnicos do mundo. Sou um cara que procuro ouvir com o máximo de atenção o que o treinador me pede. Trabalhando com uma pessoa como o Mourinho, então, seria impossível não aprender alguma coisa.
Foi fácil a adaptação para morar fora do Brasil? O que te ajudou a se acostumar?
A adaptação foi bem tranquila. Recebi muito apoio dos jogadores e funcionários do clube, desde o Real Madrid até o Porto. Só tenho a agradecer, pois isso facilitou demais as coisas. Fora de campo também foi tranquilo. Levei minha esposa [Anna Mariana] para morar comigo desde o início. O espanhol é um idioma fácil de aprender. Fizemos aulas e rapidamente já estávamos nos virando. Tanto Madri quanto a Cidade do Porto são cidades que te oferecem tudo, te dão suporte para tudo. Então, não tivemos dificuldades nem na Espanha nem em Portugal.
Acha que a Europa te fez bem pessoalmente? Mudou sua personalidade dentro e fora de campo?
Como eu falei anteriormente, eu sou um cara que costumo ouvir com atenção o que o treinador pede, orienta. Então, por eu ter trabalhado com treinadores como Mourinho, [Carlo] Ancelotti, no Real, e o próprio [Julen] Lopetegui, no Porto, que é muito bom, com certeza eu cresci e evoluí na Europa, tanto na parte tática quanto nos fundamentos de jogo. Tive grandes treinadores no Brasil também, então eu já tinha uma base legal. Na Europa, o estilo de jogo é diferente, mais rápido, mais dinâmico. Por isso o crescimento é natural. Fora de campo, tive a experiência de conhecer novas culturas, novos lugares. É um aprendizado diário. Hoje eu me sinto mais maduro, sem dúvida.
Qual o melhor volante da atualidade?
Joguei com o Xabi Alonso [atualmente no Bayern de Munique] no Real Madrid e fiquei ainda mais fã dele. É um cara fora de série.
Qual o melhor jogador do mundo: Cristiano Ronaldo [com quem já jogou], Messi [já enfrentou] ou Neymar [já enfrentou e jogou junto]?
Quer me complicar, pô? [risos]. Voto no Cristiano e no Neymar, que são meus amigos.
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