opinião
Zito foi o maior líder do futebol brasileiro
José Ely de Miranda, ou simplesmente Zito, que morreu no último domingo, dia 14 de junho, aos 82 anos, foi o maior líder que o futebol brasileiro produziu. Dentro do campo, com a camisa do Santos ou da seleção brasileira, o volante, aos gritos, incentivava, cobrava e xingava seus companheiros sempre pedindo empenho total. Nem Pelé escapava de suas broncas –o eterno camisa 10 concordava e quase abaixava a cabeça ao ouvir as duras de Zito.
Com seus berros Zito contagiava seus companheiros. Sem a presença dele, o grande time do Santos, que dominou o futebol brasileiro –e mundial– desde os meados da década de 1950 até o final dos anos 1960, não seria apontado como um dos maiores times na história do futebol. Pois, além dos inúmeros títulos conquistados, o time santista desse período também protagonizou inúmeras goleadas impiedosas e viradas históricas, graças a Zito que sempre cobrava dos seus companheiros seriedade e o maior número de gols possíveis em uma partida.
Mas Zito não jogava apenas com "a garganta". Ele sabia tratar muito bem da bola, mesmo sendo teoricamente um volante que tinha quase sempre a função de marcar –em que ele se destacava–, antes de atacar. Por isso, o "Gerente", apelido que surgiu graças a sua liderança, jogou de 1952 a 1967 com a camisa do Santos, realizando 733 partidas e marcando 57 gols.
Nascido em Roseira, interior de São Paulo, em 8 de agosto de 1932, ele chegou ao Santos, perto de completar 20 anos, e logo depois já ajudava o time da Vila Belmiro a conquistar, ainda sem Pelé, o bicampeonato do Campeonato Paulista de 1955 e 1956 –lembrando que, antes disso, o último título estadual do Santos, havia sido em 1935.
Com a seleção, esteve em três Copas do Mundo: 1958, 1962 e 1966. Foi peça de destaque nas duas primeiras, quando o Brasil conquistou o bicampeonato Mundial.
No Mundial da Suécia (1958) começou na reserva de Dino Sani. Só ganhou a posição na terceira partida no confronto contra a então União Soviética. Com a entrada de Zito e também da dupla de gênios formada por Pelé e Garrincha, o Brasil acertou de vez a equipe e deu uma arrancada excepcional para ganhar o primeiro título após golear a Suécia por 5 a 2, na grande decisão.
Quatro anos depois, no Chile, Zito continuou sendo um dos principais destaques da equipe. Sempre muito bem colocado em campo, ele foi perfeito nas antecipações e nos roubos de bola, se tornou o melhor jogador da sua posição no torneio e ainda teve papel de destaque na grande decisão.
Quando a partida contra a então Tchecoslováquia estava empatada por 1 a 1, o volante, começou um contra-ataque ainda no campo brasileiro. Desde o início dessa ofensiva brasileira, Zito nunca deixou de acompanhar a jogada. Por isso, quando a bola chegou à ponta esquerda, nos pés de Amarildo, que fez um lindo cruzamento, Zito, por ter dado uma grande arrancada, sempre acompanhando a linha bola, estava na área para fazer o segundo gol brasileiro.
Não são poucos os jogadores brasileiros que juram que Zito, enquanto a jogada se desenrolava, ia ditando para quem deveria receber os passes e que ele pediu a bola no momento em que Amarildo armou o passe para a área. "Foi um golaço. Foi o gol da vitória e do bicampeonato", costumava dizer, sempre com a postura firme de um líder, mesmo todos sabendo que naquele jogo, Vavá ainda faria o terceiro gol do Brasil.
Fora do gramado, Zito também tinha o respeito dos companheiros e diretores. Por isso, ele intercedia pelos seus colegas na hora de renovação dos contratos e, como um bom líder deve sempre fazer, também ajudava na formação de seus substitutos, como, por exemplo, o volante Clodoaldo, que foi titular absoluto do Brasil na campanha do tricampeonato da Copa do Mundo de 1970, no México.
Depois de encerrar a carreira no Santos, Zito teve vários cargos de direção no clube. Nos últimos anos, somou mais taças aos mais de 20 títulos marcantes que ele ganhou jogando com a camisa do Santos. Ele foi responsável pela revelação de nomes como Diego e Robinho. Graças a ele, o time santista contou com Neymar. Encantado com o talento do menino, Zito usou de todos os meios para que Marcelo Teixeira, então presidente do clube, fosse acompanhar uma partida do garoto. O cartola foi e acabou levando Neymar para a Vila Belmiro.
Em uma época em que o futebol brasileiro questiona a falta de líderes, é sempre bom se lembrar de Zito, um jogador e craque que mudou a história de várias partidas apenas falando as palavras certas nos momentos em que o time mais precisava.
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