Análise
Em tempos de 7 a 1, morte de Ghiggia enterra o Maracanazo
"Morre Ghiggia, autor do gol do Uruguai contra o Brasil na Copa de 1950."
"Coitado. Nem conhecia."
"É só o cara que fez o gol do segundo episódio mais triste da história do futebol brasileiro."
O diálogo, travado por jovens fãs de futebol em um grupo de Whatsapp, é significativo. A morte de Alcides Ghiggia, 88, é também a morte do Maracanazo.
Para a garotada brasileira, tragédia é o 7 a 1. E os vilões são Toni Kroos e Klose.
Afinal, 1950 foi há muito tempo, não tem nem fotos coloridas e os poucos vídeos exibidos são sempre os mesmos, de qualidade péssima. São incompatíveis com a geração YouTube.
Último remanescente daquela decisão, Ghiggia, justamente o autor do segundo gol da heroica virada uruguaia, era quem mantinha o fantasma do Maracanazo vivo.
A cada aparição pública daquele velhinho que fez o Maracanã se calar, os brasileiros eram obrigados a reviver aquele 16 de julho de 1950.
Agora, já não há mais ninguém para lembrá-los.
Daqui para frente, o Maracanazo será um assunto quase que restrito aos saudosistas e relembrado pela imprensa apenas em datas históricas (o aniversário de 75 anos, o centenário).
Do mesmo jeito que torcemos o nariz para aqueles que insistem em dizer "Pelé? Que nada. Bom mesmo era o Leônidas" ou exaltam a Hungria dos anos 1950, acharemos graça dos que insistirem que o Maracanazo é a maior tragédia do futebol brasileiro.
A vida de Ghiggia fez nascer o Maracanazo. E a morte de Ghiggia matou o Maracanazo.
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