Análise
Cielo sofre para recuperar instinto em retorno, mas sinaliza evolução
No fundo, está tudo ali.
A velocidade, os tapas que deixam o peitoral enrubescido, os repetidos sinais da cruz antes da largada e a insatisfação com marcas que para outros seriam excelentes.
Nas sete vezes em que caiu na piscina do Parque Aquático Maria Lenk para disputar o troféu de mesmo nome, sua primeira competição em um ano, Cesar Cielo foi quase idêntico ao do passado.
Conquistou medalhas (um ouro, uma prata e dois bronzes), atraiu os olhares e, se não com a potência de antes, registrou alguns tempos entre os melhores do mundo -o quarto nos 50 m borboleta.
Na noite deste sábado (5), ele chegou em segundo nos 50 m livre com outra marca expressiva: seu 21s79 é o sexto tempo da temporada e sua melhor marca desde 2014.
O que diferiu, então? A confiança, que só vem com fluência e repetição. Ao longo da semana, Cielo reiterou que lhe faltou aquele traquejo de outrora, quando a mente automaticamente ajusta o corpo para o que deve fazer.
"Eu estou pensando muito antes da prova. Antes, isso era muito automático. Mas isso só vem com repetição."
No jargão futebolístico, o velocista está "sem ritmo de jogo", sobretudo em razão dos nove meses em que esteve praticamente parado no desdobramento de sua decepção de perder os Jogos do Rio. Ele se ressente da falta de "instinto" competitivo.
Em 2016, ele perdeu a vaga olímpica nos 50 m livre para Bruno Fratus e Italo Duarte, mas não foi exatamente lento. O tempo de 21s91 que fez na seletiva, e que o deixou atrás dos compatriotas, ficou entre os 20 melhores do ano.
Desde aquele fatídico abril, Cielo entrou em longa temporada de recesso que se encerrou somente em janeiro. Ainda assim, a meta de voltar à seleção foi concluída.
"Preciso ter consciência, apesar de ser um competidor, que com três meses de treino eu não voltaria à forma de campeão mundial", disse.
O fato positivo é que o velocista tem dois meses para fazer esse ajuste fino e readquirir o ritmo antes do Mundial de Budapeste, em julho.
Cielo será convocado para nadar pelo menos o potente revezamento 4 x 100 m livre brasileiro, que ainda tem Fratus, Gabriel Santos e Marcelo Chierighini. Indagado pela Folha se vai apresentar-se para a prova coletiva, não hesitou: "Mas com certeza."
Cielo sabe que o quarteto tem boa chance de subir ao pódio na Hungria, já que a soma dos tempos de cada um aponta o Brasil como segundo país mais rápido, atrás da Austrália -a seletiva dos EUA ainda não aconteceu.
Ele também deve ser convocado para nadar os 50 m livre, assim como Fratus.
Para quem era dado como aposentado há alguns meses, a perspectiva de ir ao Mundial em julho com chance de pódio é animadora.
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