Magoado com demissão, argentino Bauza quer levar árabes à Copa
Giuseppe Cacace/AFP | ||
O argentino Edgardo Bauza (dir.) ao lado do presidente da Associação de Futebol dos Emirados Árabes Unidos, Marwan bin Ghalaita |
Edgardo Bauza, 59, tenta esconder a mágoa, mas esta ainda não passou. Ao mesmo tempo que quer deixar para trás a passagem pelo comando da seleção argentina, denota na voz não ter aceitado a forma como foi demitido.
"Não foi o certo. Mas já foi. Não adianta mais falar sobre isso", disse o treinador à Folha há duas semanas.
Dias depois, ele embarcou para os Emirados Árabes.
Foi contratado para fazer o mesmo que na Argentina: levar a seleção local para a Copa do da Rússia em 2018.
Corre o risco de não conseguir, assim como aconteceu em sua terra natal.
Os Emirados Árabes ocupam o quarto lugar do Grupo B das eliminatórias da Ásia, com nove pontos. Estão a quatro da Austrália e faltam três rodadas. A equipe precisa ficar pelo menos no terceiro lugar para disputar os playoffs e a repescagem.
A primeira partida de Bauza será em 13 de junho, contra a Tailândia, fora de casa.
Ao conversar com a Folha antes de aceitar a oferta, Bauza considerava até mesmo voltar ao futebol brasileiro.
"Por que não? Foi uma experiência importante na minha vida, interrompida por circunstâncias bem especiais", observou o técnico.
Quando disse "sim" ao convite da AFA (Associação de Futebol Argentino), ele era técnico do São Paulo.
Nos oito meses em que comandou a Argentina, Bauza não deu padrão de jogo ao time. Conviveu com incômodos boatos de que havia uma confraria comandada por Messi e Mascherano, e que ela escalava os titulares.
Não fez nada ao ver o elenco decidir boicotar a imprensa. O mais importante: deixou a seleção diante do fantasma de não se classificar para a Copa da Rússia.
Ela está em quinto nas eliminatórias sul-americanas, fora da zona de classificação automática para o torneio.
"Eu não posso comentar muito sobre isso (a demissão) porque não entendo. Não foi esse tipo de promessa que recebi quando me chamaram para o cargo. Não me arrependo de ter aceitado. Como poderia? Todos querem servir à seleção de seu país. Mas achei que teria tempo para trabalhar mais", afirmou.
REJEIÇÃO
Depois da saída de Gerardo Martino da seleção, em 2016, Bauza nunca foi o nome de preferência da AFA.
A prioridade era ter Jorge Sampaoli -ex-treinador do Chile e que deve ser anunciado na Argentina nesta semana. Mas Martino, por não gostar do colega, segurou-se no cargo e só pediu demissão depois que Sampaoli se cansou de esperar e aceitou oferta para dirigir o Sevilla (ESP).
Um dos quatro técnicos campeões da Libertadores por dois clubes diferentes -ao lado do argentino Carlos Bianchi e dos brasileiros Luiz Felipe Scolari e Paulo Autuori-, Bauza não vacila diante da pergunta se classificaria a Argentina para a Copa de 2018 se tivesse tempo.
"Claro que sim", disse acreditar. Seria questão apenas de esperar a tormenta se acalmar e ter paciência.
Bauza venceu o torneio sul-americano pela LDU, do Equador, em 2008, e San Lorenzo (ARG) em 2014.
"A Argentina vai se classificar para a Copa com qualquer treinador que chegar, da mesma forma que se classificaria comigo. E vai chegar como uma das favoritas à Rússia em qualquer circunstância", assegurou.
Bauza caiu do cargo atirando. Em entrevista ao jornal "La Capital de Rosario", disse que a AFA é dirigida "por sindicalistas que não entendem nada de futebol".
O novo presidente da entidade, Claudio Tapia, pertencia ao sindicato dos caminhoneiros do país. Seu sogro, Hugo Moyano, que é presidente do Independiente, atuava como secretário geral da Confederação Geral do Trabalho, a central sindical mais poderosa da Argentina.
Indagado novamente sobre o assunto, pediu para não comentar e ficou impaciente com o rumo da conversa.
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