Torero na cativa: Festa armada
O problema do estádio Mané Garrincha não foi dentro, foi fora do estádio.
As barreiras de segurança foram armadas muito longe da entrada, e assim grande parte do público teve que camelar um quilômetro debaixo de um sol infernal. Para piorar, o caminho tem poucas árvores.
A solução para muitos foi parar numa das barracas de cerveja maquiavelicamente espalhadas pelo caminho (Brahma: R$5,00; Budweiser: R$ 6,00).
Mas o mais grave foi a presença massiva da polícia.
Havia centenas de policiais armados, carros blindados, motociclistas passando sobre canteiros, cavalaria e dezenas de carros que ficaram com suas luzes vermelhas piscando o tempo inteiro. Tudo para reprimir uma manifestação de adolescentes cheios de espinha, que devem ter marcado o protesto pelo Facebook.
Uma atitude antipática que pode explicar, em grande parte, as vaias recebidas pela presidente Dilma Rousseff antes de seu curto discurso, na abertura.
A polícia chegou a disparar bombas de gás, e sobrou para o pequeno Rafael dos Santos Souza, de seis anos, um são-paulino de Pindamonhangaba que foi ver o jogo com o pai, Vanderson Pinto de Souza.
Vanderson disse que o gás queimou nariz e garganta e ficou difícil de respirar. Ele, é claro, não tinha nada a ver com a manifestação.
Outro problema foi apontado por Fernando Cruvinel, 29, médico de Goiânia.
Usando uma camisa da Colômbia (não tinha outra amarela), ele achou tudo perfeito, menos a falta de comida.
As lanchonetes tinham longas filas, de 20 minutos de espera. Em algumas, às 14h30 já não havia mais nada. Em outras ainda se podia comprar batatas fritas e amendoins, que foram meu almoço.
A acessibilidade foi o ponto positivo. Isabel Borja, de Aracaju, com uma redonda barriga de oito meses, onde está um menino que se chamará Thor, disse que dentro do campo todos foram solícitos e ela recebeu as informações necessárias.
O problema é que, mesmo com necessidades especiais e podendo parar num estacionamento do estádio, ela teve que andar cerca de 700 metros.
Fiz um test drive no banheiro e ele estava decente, sem aquele odor de amônia tão comum nos banheiros de estádio. Já nos femininos havia um tanto de fila. Aliás, havia muitas mulheres no Mané Garrincha.
É uma das poucas vantagens da mauricinhização do futebol.
Viam-se muitas camisas oficiais, que no estádio custavam 198 reais.
Elas deixaram o estádio completamente amarelo.
A torcida vibrou muito. Aplaudiu o hino japonês, urrou ao final do hino brasileiro, aplaudiu roubadas de bola e passes inesperados, mas também vaiou quando a seleção, no meio do primeiro tempo, atrasou a bola para o goleiro.
Também vaiou Joseph Blatter, e com gosto. Dilma, por contaminação, também recebeu apupos.
Dentro do estádio não havia tantos policiais.
Dentro do estádio a vaia ainda é livre.
JOSÉ ROBERTO TORERO escreveu 24 livros (como "O Chalaça" e "Pequenos Amores", vencedores do prêmio Jabuti), dez roteiros de curta-metragem (entre eles, "Uma História de Futebol", indicado ao Oscar em 2001), sete roteiros de longa-metragem (um deles, "Pelé Eterno", prêmio Città di Roma no Festival de Cannes de 2005) e roteiros para a TV
Livraria da Folha
- "Faço uma Copa do Mundo a cada duas semanas", diz chefão da F-1
- 'Futebol-Arte' reúne imagens de 'peladas' nos 27 Estados do Brasil
- Jules Rimet sumiu três vezes, mas só brasileiros deram fim à taça
- Teixeira e Havelange enriqueceram saqueando o futebol, escreve Romário
- 'Zico não ganhou a Copa? Azar da Copa'