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Corrupção
é o ópio dos políticos
Fincado
na justa preocupação da sociedade com o destino
dos recursos que o governo extrai de seu bolso, o esforço
moralizante contra a corrupção está sendo
crescentemente corrompido pelos políticos _ o que,
no final, só tende a fortalecer a impunidade, já
que investigadores e investigados entram no mesmo saco do
descrédito.
Atira-se
para todos os lados e ao mesmo tempo, fazendo do noticiário
uma salada mista e indistinguível de fatos, personagens,
datas, documentos, suspeitas. Bastou surgir a chance de transformar
em indícios de ladroeira contratos de coleta de lixo
realizados por Marta Suplicy para o PSDB, na Câmara
Municipal, propor uma CPI -- contratos que poderiam ser perfeitamente
investigados pelos procuradores, no curso normal do processo
judiciário.
É
a reverberação na política municipal
da efervescência federal, onde a oposição,
de olho em 2002, quer uma CPI contra Fernando Henrique Cardoso,
atiçada pela cruzada pessoal do senador Antônio
Carlos Magalhães, movido por interesses pessoais feridos.
A exploração
da questão da ética expressa muito menos a vontade
de limpar a sociedade das falcatruas, e muito mais a necessidade
de ganhar pontos na corrida sucessória e destacar-se
com uma bandeira capaz de entusiasmar o eleitorado. Vende-se
a idéia de que honestidade não é condição
básica para alguém exercer um cargo público
-- ou qualquer cargo -- mas uma qualidade.
Além
da crise ética, vive-se uma crise de bandeiras. Os
partidos falam a mesma linguagem, lançam, em essência,
as mesmas propostas, prometem mais gastos na área social,
melhorando educação, saúde, emprego.
Todas aceitam, em maior ou menor grau, as regras da economia
de mercado, as privatizações já um fato
consumado, propostas como moratória saíram da
pauta.
Daí
que a luta contra a ladroagem tornou-se o ópio dos
políticos, na busca de uma diferenciação.
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