Atenção,
políticos: é só o começo
Nem o
mais experiente dos analistas políticos ousou prever
que o senador Antonio Carlos Magalhães fosse obrigado
a anunciar tão rapidamente a renúncia a seu
mandato. Por quê?
Da condição
de principal acusador das imoralidades públicas, temido
e reverenciado, ele acabou isolado, acusado de falta de decoro,
sem alternativa, exceto a retirada estratégica para
evitar humilhação ainda maior.
Apenas
as evidências do seu envolvimento na invasão
do painel eletrônico do Senado, por mais escandalosas
que sejam, não explicam plenamente a rapidez da trajetória
da notoriedade à marginalidade política.
A irritação
que o senador provocou no presidente Fernando Henrique Cardoso
ao apontá-lo como conivente com a roubalheira, a sucessão
ao Palácio do Planalto e a guerra pessoal que travou
com Jader Barbalho, transformado em peça decisiva no
processo de cassação depois da votação
no Conselho de Ética do Senado, influenciaram em parte
nessa pressa. Mas a questão vai além.
Há
alguma coisa nova. E essa coisa se chama política em
tempo real. Assim como tudo na cultura do tempo real, marcada
pelo instantâneo e pelo interativo, experimenta-se outro
patamar de velocidade no fluxo de informações
e na interferência do cidadão diante do poder.
Além
dos vários fatores políticos e das evidências
de mazela, a TV Senado, transmitindo ao vivo as sessões
e colocando na tela o e-mail de cada senador, compõe
o cenário para entender a degringolada meteórica
de José Roberto Arruda e de ACM.
Já
seria suficientemente inibidora aos homens públicos
a transmissão direta pela TV de seus atos e opiniões.
Acrescente-se o correio eletrônico, habilitando o eleitor
cidadão, só com um toque no teclado do computador,
a distribuir pancadas virtuais. Mas talvez transformadas em
reais na hora das urnas.
"Tivemos
que criar um aparato, apenas para atender a nova demanda.
Nossas linhas telefônicas ficavam congestionadas",
afirma Aloízio Oliveira, diretor da TV Senado.
O ápice
da audiência aconteceu durante a acareação
entre Arruda, ACM e a ex-diretora do Prodasen Regina Célia
Borges. "Foram 14 emissoras de TV e outros tantos sites
transmitindo nossas imagens", orgulha-se Oliveira.
É
só o começo.
A TV Senado
é apenas um detalhe na combinação de
aumento da escolaridade com novas tecnologias de comunicação
e expansão das telecomunicações -uma
mistura que mexe nas estruturas de poder.
Apesar
do crescimento da transmissão de imagens, som e dados
via cabo ou linha telefônica, o acesso à informação
ainda é ridículo.
Exemplo:
os canais por assinatura, que transmitem a TV Senado, chegam
somente a 3 milhões de residências. Traduzindo:
apenas 12% dos lares dispõem de assinaturas -81% deles
nas classes A e B. Há muito espaço para crescer,
mesmo nas famílias de maior poder aquisitivo.
Só
recentemente uma linha telefônica deixou de ser artigo
de luxo. Importa é que, nesses dutos, a tendência
inexorável é o aumento do acesso à internet,
inclusive nas camadas populares. A Microsoft está lançando
um computador de R$ 700,00 que permite o acesso à internet.
Ao mesmo tempo, alia-se com grupos econômicos para oferecer
um financiamento especial aos compradores do computador popular.
O Ministério das Comunicações mostra-se
disposto a entrar na briga e a bancar um modelo similar, desenvolvido
pela Universidade de Minas Gerais, com a venda financiada
pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal.
Assim
como a TV, o computador vai deixar de ser um produto para
poucos.
A lei determina que 1% da receita das empresas de telecomunicações
seja destinada à universalização dos
bens da era digital, para atingir especialmente as escolas,
os centros culturais e as bibliotecas públicas. Isso
significa R$ 1 bilhão por ano -e a maior parte desse
dinheiro irá para as escolas de ensino médio.
Várias
empresas de telecomunicações, entre elas a Telefônica
e a Telemar, já estão drenando recursos para
colocar as salas de aula na modernidade digital.
Se informação
é poder, o acesso à informação
significa a repartição do poder. Por isso é
melhor que os políticos que não queiram dançar
como ACM dançou prestem atenção à
nova regra do jogo.
É
uma regra que diz respeito não só aos políticos
mas a qualquer um que se veja obrigado a ser testado pela
opinião pública -seja por suas idéias,
seja por suas atitudes, seja por seus produtos.
PS -Por
falar em educação, tomei contato na semana passada,
no Ceará, com uma das mais bem-sucedidas experiências
brasileiras para melhorar o desempenho dos professores. Um
grupo de empresas privadas criou um fundo para premiar a produtividade
em sala de aula. Periodicamente, são feitos testes
com estudantes de escolas públicas. Escolhem-se os
50 mil mais bem colocados. O professor recebe R$ 6 toda vez
que um dos seus alunos entra na lista. Um deles chegou a ganhar
R$ 6 mil em apenas um mês. É mais do que ganharia
por ano. Resultado: os professores brigam para melhorar o
rendimento escolar de seus alunos e, assim, serem premiados.
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