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O problema de Marta Suplicy é ser mulher

Antes da separação conjugal, Marta Suplicy disse a Eduardo Suplicy que se manteria neutra na escolha do candidato do PT à Presidência da República.
Mas a prefeita preferiu aderir publicamente à candidatura Lula. "Ela é livre para apoiar quem quiser", resigna-se o senador presidenciável, que, embora magoado, se mostra disposto a entender que, em política, nem sempre os acordos verbais conseguem sobreviver às circunstâncias.

Contaminado pela mágoa, especulam políticos, Suplicy estaria decepcionado com Lula, que seria o elo entre Marta e Luis Favre, o novo namorado. Imagina-se até uma revanche: o senador investigaria e denunciaria fatos que comprometessem Favre, assessor internacional do PT e amigo há 20 anos de Lula. "Mentira. Gosto da Marta, respeito-a como mulher e como mãe dos meus filhos. Sei o que ela está passando com a exposição de sua vida privada e não sou eu quem vai piorar a situação", rebate o senador.

Ele sai em defesa da ex-mulher: "Curioso que não se investigue com a mesma intensidade a vida privada dos homens do poder".

O "affaire" transformou-se num explosivo ingrediente da sucessão não tanto por ter afetado Suplicy, um presidenciável com escassas possibilidades eleitorais, mas, especialmente, por ameaçar atingir Lula, candidato com ampla chance de vitória nas urnas.

Principal vitrina do partido, a gestão de Marta vive um momento difícil - ainda sem obras para exibir e cercada da crescente desconfiança da opinião pública. O eleitor tem razão para frustração: foram muitas as promessas na campanha e, por enquanto, ouviu-se muita explicação. A exploração da vida pessoal da prefeita, neste momento, torna mais vulnerável sua imagem.

Vamos ao ponto central: um dos principais problemas da prefeita, nesse caso sentimental, é simplesmente ser mulher.

Ninguém tem nada a ver com a vida pessoal de um político - um homem público deve ser, a rigor, julgado pelas suas ações públicas. A vida pessoal torna-se relevante para o julgamento do desempenho de um político se estiver em jogo alguma ilegalidade ou prejuízos à comunidade; fora disso, é problema dele ou dela.

Há notícias, por exemplo, que deveriam despertar a atenção da população sobre a performance da prefeita: as suspeitas de que tenha sido pago mais do que o devido pela compra de leite e pão para as creches, a demora no cadastramento dos estudantes para receber a bolsa-escola federal, a falta de transparência na investigação sobre o lixo, a existência de buracos nas ruas, a lentidão na apresentação do projeto de implantação de subprefeituras, a ineficácia, até agora, da "Operação Belezura", a perspectiva incerta de um novo Plano Diretor. O debate sobre esses assuntos pode embasar uma visão sobre o grau de competência no gerenciamento administrativo.

Se é para julgar pela vida pessoal, o fato que importa é o seguinte: Marta foi corajosa em não manter um casamento de conveniência e, ainda por cima, assumir uma paixão, tirando-a da clandestinidade. O tamanho do desafio de Marta pode ser medido por uma pesquisa do instituto Vox Populi, encomendada por candidatos que já preparam seus discursos e programas eleitorais.

Apesar de todas as mudanças de costumes, 53% ainda consideram ideal que a mulher se case virgem. Para 57%, a mulher só deve trabalhar se o salário do marido for insuficiente; 54% acreditam que o rapaz adolescente deva ter mais liberdade que a moça. O divórcio é visto como solução negativa por 55% dos entrevistados.

Mais aprofundadas, essas visões apareceram, na semana passada, em pesquisas qualitativas (as pessoas debatem o assunto, e não se limitam a responder a questionários). A investigação foi conduzida pela CPM Market Research com dois grupos, cada qual com nove mulheres das classes A e B, com idades entre 35 e 40 anos, moradoras de São Paulo. Foi lançada a seguinte questão: homens e mulheres separados são tratados igualmente?

Refletindo o que sentia o grupo, uma delas disse: "Eu vejo no prédio onde moro. Quando se muda uma mulher separada com filhos, todo mundo fala. O síndico diz: "Coitada, não tem homem'".

Outra complementou: "Dizem que ela (a descasada) "apronta", porque não tem homem por trás e, assim, faz o que quer".

O que Marta fez foi ferir, com a verdade de suas emoções, a mentira estabelecida de uma moral conservadora e dominante na sociedade brasileira. Talvez preferissem a hipocrisia clandestina.

PS - Recebi e-mails de leitores e leitoras, argumentando que tinham bons motivos para estar decepcionados. Afinal, durante a campanha, Marta e Suplicy apresentaram-se como um "casal-modelo". Com a palavra, o marido abandonado: "Não havia encenação, havia um relacionamento harmônico", sustenta Suplicy e, mais uma vez, aproveita a ocasião para falar de sua dor. "Por mim, ficaria daquele jeito para sempre."

E-mail - gdimen@uol.com.br

 
 
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