Em 1994, Ailton Krenak escreveu na 'Folhinha' sobre sua tribo indígena
Leia texto de Ailton Krenak sobre a história de sua gente, a tribo Krenak.
Texto foi publicado em 16 de abril de 1994, na "Folhinha".
- No aniversário de 50 anos, 'Folhinha' relembra sua história e tenta imaginar o futuro
- Clarice Lispector, Gilberto Freyre e outros nomes ilustres escreveram para a 'Folhinha'
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KRENAK CONTA HISTÓRIA DE SUA TRIBO DE CAÇADORES
Suruí, Krenak, Ianomami, Tapirapé... isso tudo é nome de tribo de índio do Brasil. E tem muito mais. Mais de 200 tribos.
O nome da minha tribo é Krenak. Meu povo vive na região leste do Estado de Minas Gerais, no vale do Rio Doce. É ali que temos uma reserva - uma pequena parte do nosso país que o governo definiu para nós.
É assim com todas as tribos - o governo deve garantir um território para o povo indígena viver com sua cultura e tradição.
Por falar em tradição e costume, a tradição dos Krenak é de serem caçadores e coletoras. Mas hoje, com as terras demarcadas, nós precisamos criar animais, fazer agricultura e reflorestamento (que é plantar árvores). E isso muda muito a nossa vida de antes, quando éramos caçadores.
RESERVA KRENAK
O povo Krenak faz parte de um grupo conhecido como "botocudos". No século passado, d Pedro 1º decretou guerra aos botocudos. Muitos índios foram mortos por caçadores.
Nos anos 20, o marechal Cândido Rondom demarcou a reserva Krenak. Ela foi invadida nos anos 50 por fazendeiros que desmataram a área e colocaram pasto para o gado. Um pequeno grupo resistiu e, em 93, conseguiu na justiça a devolução de seu território.
KRENAKS, OS "CABEÇA-TERRA"
Em nossa aldeia, na área Krenak, na divisa do Estado de Minas Gerais com o Espírito Santos, tem muita menina e menino.
Toda manhã, a turma sai bem cedinho e entra na canoa para atravessar o rio. Depois, pega o trem de ferro, com vagão de passageiro, e viaja meia hora até chegar à escola, na cidade de Resplendor.
Quando é meio-dia, todo mundo volta com muita fome. E o trem de ferro grita: tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome.
Em tem também os país e avós e tios e primos desses meninos e meninas que são continuadores da tradição de nosso povo Krenak. Esse nome na nossa língua significa "Cabeça-Terra".
FESTAS LEMBRAM TRADIÇÃO
Meu padrinho, um pajé guarani, conta histórias da tradição de nosso povo, para nós não esquecermos de onde viemos e para onde vamos. E o jeito como ele conta é muito bom: cantando e dançando. A gente canta e dança junto. As crianças e seus pais, tios, primos, avós, todos. E nessa cantoria são lembrados os acontecimentos que deram origem ao mundo.
Coisas que aconteceram antes do mundo ser como é agora. Essa cerimônia é muito bonita e tem o nome de Mongarai. Tem muitas outras tribos que fazem festas assim, com suas tradições.
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