Leilão da coleção Saint Laurent-Bergé arrecada 373,5 milhões de euros
A venda da coleção de arte do estilista francês Yves Saint Laurent e de seu companheiro, o empresário Pierre Bergé, representou um total de 373,5 milhões de euros (cerca de R$ 1,1 bilhão), anunciou a Casa Christie's ao final de três dias de vendas, nesta quarta-feira. A soma constitui um recorde no leilão de uma coleção privada.
"Estou muito feliz esta noite. Estou certo de que aqueles que adquiriram todas essas obras de arte vão amá-las", comentou à imprensa Bergé, 78, que durante décadas comprou e colecionou as 733 peças leiloadas junto com o companheiro, Yves Saint Laurent, morto em junho de 2008.
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O leilão da coleção, reunida ao longo de 50 anos por ambos os homens converteu-se, desde o primeiro dos três dias de venda, segunda-feira, no Gran Palais de Paris, na mais importante já realizada. A soma dos lances registrados no primeiro dia --206 milhões de euros (R$ 627 milhões)-- já bateu o recorde de leilão de uma coleção privada.
Remy de la Mauviniere/AP | ||
Tapeçaria de Sir Edward Coley Burne-Jones é um dos itens que foi à leilão; veja galeria de imagens |
Outro recorde nos lances ficou por conta do valor pago em uma tela de Henri Matisse. "Les coucous, tapis bleu et rose", uma natureza morta pintada em 1911, foi arrematada por 32 milhões de euros (R$ 97,3 milhões). O recorde precedente para uma obra de Matisse remontava a 2007, com 33,6 milhões de dólares, em Nova York.
Nesta quarta-feira, dois bronzes chineses reclamados por Pequim foram vendidos por um total de 28 milhões de euros.
Tratam-se das cabeças de rato e coelho em bronze da coleção de arte de Yves Saint Laurent, símbolo de humilhação na China porque recordam um dos piores episódios da invasão do país por tropas da França e Reino Unido, potências coloniais em 1860.
Controvérsia política
As peças em bronze, que procedem da fonte zodiacal do Palácio de Verão do imperador Quianlong (1735-1795), noroeste de Pequim, saqueado em 1860 por soldados franceses e britânicos, dão um toque político ao leilão parisiense.
O governo da China tentou impedir a venda das duas peças, mas a justiça francesa rejeitou o pedido apresentado por advogados chineses.
"O saque do Palácio de Verão (Yuanmingyuan) por franceses e britânicos permanece na memória dos chineses como um crime imperdoável. Para os franceses, seria como se os prussianos em 1870 tivessem arrasado Versalhes, saqueado o Louvre e incendiado a Biblioteca Nacional", explica Bernard Brizay, autor de um livro sobre esse episódio.
Durante a segunda guerra do ópio, em outubro de 1860, as tropas francesas e britânicas invadiram Pequim, depois da negativa da corte imperial de autorizar a abertura de embaixadas como estabelecia o tratado de Tianjin, assinado dois anos antes.
Os soldados saquearam o antigo Palácio de Verão e depois o incendiaram em represália pela morte e tortura de reféns ingleses e franceses.
Este palácio era uma maravilha de estilo ocidental, construído com a ajuda dos jesuítas, na zona nordeste da capital chinesa, onde os imperadores se refugiavam do calor de verão insuportável da Cidade Proibida.
Na véspera, a China denunciou o que considera uma "chantagem política" por parte de Pierre Bergé, o companheiro de Saint Laurent, que disse estar disposto a entregar os dois bronzes chineses de sua coleção em troca dos direitos humanos e do retorno do dalai-lama ao Tibete, informa a imprensa.
"Exercer uma chantagem política é prosseguir de fato com a política baseada na força, algo que a História rejeitará", declarou Jiang Kun, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e vice-presidente da Associação Chinesa de Artes Folclóricos.
Wang Qiutong, presidente de uma associação cultural de Hong Kong, declarou à imprensa: "Há 150 anos, incêndio e saque; 150 anos depois, chantagem. O comportamento de Pierre Bergé é pura e simplesmente uma lógica de gangster".
Com France Presse e Efe
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