Bernard Cornwell diz que precisou esquecer Shakespeare para escrever livro
Reza a lenda que foi na batalha de Agincourt, em 1415, que surgiu o símbolo do V da vitória, feito com os dedos indicador e médio. Durante o combate, os franceses ameaçaram cortar fora os dois dedos dos arqueiros ingleses se os pegassem, para que os rivais não pudessem voltar a usar os arcos. Após derrotarem o Exército francês, três vezes maior, os ingleses deram a resposta, erguendo seus dedos intactos.
Divulgação |
O escritor britânico Bernard Cornwell lança o livro"Azincourt" durante a Bienal do Rio |
Quem conta a história, em entrevista por telefone à Folha, é o escritor britânico Bernard Cornwell, 63, um dos principais convidados da 14ª Bienal do Livro do Rio, que acontece de hoje até o próximo dia 20 no Riocentro.
Amanhã, às 19h30, o autor lança no evento seu livro "Azincourt" --com "z", em vez de "g", como dizem os franceses e como prefere Cornwell. O romance, que traz uma nova visão sobre a batalha lembrada por William Shakespeare em "Henrique 5°", saiu recentemente no Brasil pela editora Record (R$ 49,90, 448 págs.) e já está nas listas de mais vendidos.
Na versão de Cornwell, o monarca que combateu junto aos soldados na histórica campanha de invasão à França, e que protagonizou a peça de Shakespeare, fica em segundo plano. "Shakespeare não conta a história da batalha propriamente, ele conta a história do rei. Eu quis escrever sob o ponto de vista dos arqueiros. A minha história é sobre o homem comum, ordinário", diz o autor. Heróis no livro de Cornwell, os arqueiros não têm destaque no texto do poeta e dramaturgo inglês, publicado pela primeira vez em 1600.
"A história da batalha foi relatada por homens que estiveram lá, dois do lado inglês e três do lado francês. Eles deram seus depoimentos logo depois do combate, eram testemunhas", ressalta o escritor. "Esses relatos dão conta de que os ingleses lançaram milhares e milhares de flechas na tentativa de conter os franceses, e que essa manobra foi fundamental. Mas acabaram numa briga de mão, com machados e martelos, em meio a lama e chuva, porque as flechas não estavam matando gente o suficiente."
Cornwell, que hoje vive nos EUA, diz que foi preciso "tentar esquecer Shakespeare" para escrever sua versão. "Essa é talvez a batalha mais famosa de todas as que envolvem a Inglaterra, ela já era famosa mesmo antes da peça. Você lê tudo sobre a guerra, tudo, e então tem de usar a imaginação para tentar experimentar como deve ter sido estar lá. Mas nunca ninguém tinha escrito um romance sobre ela. O que há são relatos históricos. É uma batalha que muita gente conhece, mas poucos sabem o que de fato aconteceu", diz.
Além de ter entrado na concorrida lista de mais vendidos do "New York Times", o livro foi elogiado por jornais como o inglês "Telegraph". "Se Bernard Cornwell nasceu para escrever um livro, foi este", escreveu um crítico do jornal. "Ninguém mais poderia pegar 'Henrique 5°' de Shakespeare, despi-lo de sua retórica e dizer a verdade nua e cria sobre a batalha de Agincourt, que viu um massacre numa escala de chocar a cristandade."
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Cornwell ficou famoso por séries best-seller como "As Crônicas de Artur" e "A Busca do Graal", nas quais alia aprofundada pesquisa histórica e ficção. "Azincourt" segue a mesma fórmula. Inclui, por exemplo, nomes reais de arqueiros, como o do protagonista Nicholas Hook. "Há uma lista com o nome dos homens que estavam na batalha. Escolhi aqueles de que gostei e criei a partir disso. Hook existiu, com esse nome, mas é essa, especificamente, a única informação histórica sobre ele."
O gosto do autor pela história não significa, no entanto, que ele tenha alguma intenção de um dia se dedicar à não-ficção. "Não, não, não. Nunca. Eu gosto de inventar histórias. É o que eu faço. O meu jeito de fazer as coisas é contar a história, tendo a certeza de que a história está certa, e criar em cima dela."
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