No sofá
Após sete horas ininterruptas de transmissão no primeiro dia do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, na Globo, a sensação é de perda total. Como se, de repente, depois de tanto apito e cuíca no cérebro, estivéssemos mais próximos das amebas.
Tal qual ano passado, Glenda Kozlowski e Luís Roberto cuidaram da narração enquanto comentaristas disseram coisas como: "Este desfile está cultíssimo" e "Por trás disso tudo, é antropologia profunda".
No início de cada passagem pela Sapucaí, estatísticas sobre a escola: 80 caixas, 60 taróis, 33 chocalhos, 42 tamborins.
Eu acrescento: 17 coraçõezinhos com as mãos, 28 beijos para a câmera, dezenas de cocares, escravos, faraós, orixás. E "um setor do Salgueiro que está homenageando o Salgueiro", nas palavras de Glenda.
Há closes assustadores de glúteos bamboleando em câmera lenta, como na série americana "A Supercâmera". Em alta definição, é possível ver as gorduras trocando de lugar. "Taí a Valeska, um ser da natureza", informa o narrador.
Num carro alegórico, um cogumelo desmaia e a saia de um dos duendes pega fogo.
"Por essa Pedro Álvares Cabral não esperava mesmo", observa Glenda, acerca de qualquer coisa.
No ponto alto da madrugada, uma moça sacoleja diante das câmeras com uma fantasia que representa a sagacidade.
Alguém diz que ela "arrebentou" na avenida, e eu penso com preocupação em seus implantes de silicone.
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